sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Perdas desestruturantes da identidade humana

Seus comentários são excelentes. Procuro sempre lê-los.
Penso que teríamos que focar os acontecimentos sob nova perspectiva, a partir de agora.

Ante um quadro onde observamos:

  • o império da irracionalidade na busca de poder e exaltação de interesses personalizados,
  • a evidência da quebra da ética e dos compromissos assumidos sob esse prisma,
  • a constatação da não aceitação de acordos visando o bem comum e ações humanitárias,

acredito que nosso foco deveria recair no que temos no "aqui e agora existencial" dessas populações.

Sob uma leitura racional e emocional, análises e interpretações deverão recair nas perdas desestruturantes da identidade do ser humano, e que interferirão diretamente em suas reconstruções logísticas e convivências futuras.

Nesse sentido, vale lembrar que as perdas, na construção do ser humano, englobam os três tipos de lutos:

1- as perdas de entes adultos e idosos significativos, parentes ou não, testemunhos de nossas experiências, pontos de nossa auto-referência, reminiscências de nosso passado e sinalização de nossa passagem por esta vida;

2- as perdas de crianças e adolescentes, representantes de nossos projetos futuristas, sonhos e propósitos que dão sentido a nossa vida;

3-as perdas dos patrimônios materiais e culturais, de nossa tradição histórica, conquistas e aquisições : autorealizações reponsáveis pela valorização de nossa auto-estima.


Como se reestruturar como ser humano, com senso moral virtuoso e justo, ante toda a distorção da própria sensibilidade humana, necessária para suportar todo o flagelo desumano?

Como suplantar todo o ódio, raiva e ressentimento, que tendem a se transformar posteriormente em reações vingativas e intimistas, até como forma de amenizar toda a angústia que geram?

Como perdoar e superar todas essas vivências violentas, mescladas em ambos os lados por impotência e culpa, dos que sofreram e foram submetidos e dos que agrediram e humilharam.

Ambos os lados terão que se confrontar com a gélida barreira de autoproteção, porta de aço da sólida indiferença, instalada internamente para aprisionar o lado mais íntimo e afetuoso de cada um, postura necessária à sobrevivência física ante o dilema "eu ou ele".

E quanto a sobrevivência psíquica?

Ambos os lados são constituídos por pais, filhos e maridos, que viram projetadas suas próprias vidas, derrocadas suas esperanças, ao serem espelhadas as mortes de familiares e a sua própria morte, ante cada tiro dado ou agressão efetuada.

Zumbis e robôs, aceitando e dando ordens aviltantes, sem autonomia humana defensiva, sem direito a senso crítico questionador, que já pagaram e pagarão alto preço a partir de agora ante a intransigência que se observa.

Quem irá lhes propiciar posterior equilíbrio emocional, harmonia consigo mesmo; motivação para respeitar as leis e normas discriminadoras políticas, economicas e sociais; disposição para a construção de convivências pacíficas humanitárias num mundo tão ameaçador e persecutório, sem a segurança de lideranças confiáveis visando o bem-estar da raça humana?

Qual será a visão de mundo e de homem, que está sendo construída, e qual prevalecerá nesse século 21?

Isso é responsabilidade de cada um de nós, mesmo distantes.

Com pesar, Aurora Gite.

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