domingo, 4 de outubro de 2009

Small World

Cada vez que tenho oportunidade, através da Internet, de entrar em contato com noticiários internacionais, é reativada a memória da experiência vivida na década de 70. Ainda me vejo adentrando em um barquinho, no "Small World", local na Disney (EUA), onde o mundo todo estava representado por bonequinhos vestidos a caráter. E nós, maravilhados com essa riqueza humanitária, conforme chegávamos ao espaço do país, mais extasiados ficávamos quando nossos ouvidos eram brindados pela mesma música ir sendo cantada na linguagem desse país. Existem vivências que não temos palavras para descrever. E essa, para mim, é uma delas.

E aqui estou eu a ler: " A vitória do povo brasileiro, como definiu Lula, é a notícia de maior destaque por todo mundo nesta sexta-feira. Os sites do norte-americano "New York Times", do espanhol "El País", do alemão "Der Spiegel", do britânico "The Guardian", do sueco "Svenska Dagbladet" e do francês "Le Monde" elevaram a notícia à manchete. (FolhaOnline, 02/10/2009)

Tenho por hábito consultar o "El País", o "Le Monde", o "New York Times, o argentino "Clarín". Acho fascinante abrir esse leque e observar uma mesma situação sob várias perspectivas.

Em 24/09/09, Andrea Rizzi do "El País" nos confrontava com o artigo intitulado "O Banco do futuro será de urânio", focando a idéia de se criar um armazém da ONU que garanta a todos os países combustível para reatores nucleares.

Já em 03/10/09, William J.Brood e David E. Sanger, do New York Times, publicam seu texto sob o título " Relatório da ONU diz que Irã tem informações para construir bomba nuclear". Colocam como crença emergente, fator preocupante para a humanidade e desafio para Obama, presidente atual dos Estados Unidos, as provas contidas nesse relatório elaborado por especialistas da AIEA ( Agência Internacional de Energia Atômica).

Em 04/10/09, Laura Lucchini, correspondente de El País em Berlim, apresenta "A maioria das crianças nascidas a partir de 2000, chegará aos 100 anos, aponta estudo". Discorre sobre estudos sobre o envelhecimento, expectativas de vida e desenvolvimento de doenças, realizados por pesquisadores dinamarqueses e alemães, publicados pela revista científica "The Lancet", através dos quais, as pessoas desse século, não só viverão mais, mas terão menos limitações e incapacidades decorrentes dos avanços médicos e tecnológicos, dos auto-cuidados (alimentação e esportes). E já previnem: "... com altos custos para o Estado, no futuro."

Ei, esperem, eu ainda estou dentro do "Small World"!

Segundo a Folha Online, de 03/10/09, o suiço Joseph Blatter, presidente da Fifa, elogia o discurso do presidente do Brasil, ao defender a candidatura do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. "Essa candidatura não é nossa, mas é da América do Sul. Um continente que nunca sediou uma Olimpíada, está na hora de corrigir isso. (...) Entre as 10 maiores economias do mundo, somos os únicos que não sediaram a Olimpíada. Para os outros (Chicago-EUA, Tóquio-Japão, Madrí-Espanha), será mais uma Olimpíada, mas para nós será uma oportunidade sem igual. (...) "

Essa vitória, segundo palavras de Lula, representou a concretização da cidadania brasileira. Confesso a vocês que também não contive minha emoção de patriota, meus olhos ficaram marejados de lágrimas, meu peito se encheu de orgulho pela minha nação. E deu Brasil!!!

Uma nova notícia me chama a atenção: " Foi uma vitória da ficção" de Juca Kfouri, jornalista e blogueiro, colunista da Folha.

Já estou saindo do Small World? Todos os indícios me apontam que sim.

Segundo Kfouri: "O anúncio do Rio de Janeiro, como sede dos Jogos de 2016, é um sonho que se tornou realidade, graças ao trabalho da delegação brasileira. Mas foi um verdadeiro show , uma vitória da ficção (... ). Daqui a pouco vai começar a realidade e aí ...

Saindo do Small World, não paro nas notícias de Jean-Pierre Langellier, do Le Monde, datada de 02/10/09: " No Brasil, o presidente Lula é criticado pela forma como administrou a crise hondurenha".

Sigo direto para a publicação de José Andrés Rojo para o jornal "El País". Seu artigo, datado de 04/10/09, tem o título : Intelectuais Domados? . O autor comenta sobre "o compromisso público do escritor (que) mudou numa sociedade fragmentada e globalizada". No entanto, "a reflexão política e moral continua sendo um desafio obrigatório".

Esse texto novamente me encheu de esperança. Reparem as décadas de nascimento dos intelectuais comentados.

Rojo cita idéias de vários intelectuais e escritores sobre o tema e suas dificuldades para abordar a violência de nossa época. " Já não existe mais o intelectual com vocação para se transformar em consciência moral da sociedade" ( Edmundo Paz Soldán, nascido em 1967), mas "O intelectual tem obrigação de intervir no debate cívico"( Mario Vargas Llosa, Arequipa, em 1936) ."Creio que um intelectual tem por obrigação ter um papel social"(Lolita Bosch, nascida em Barcelona em 1970).

"Antes queríamos mudar o mundo, agora nos conformamos que não exploda"( Santiago Roncagliolo, nascido em Lima, em 1975). "Multiplicaram-se a violência, a pobreza, a desigualdade e, cada vez são menores, as possibilidades das novas gerações frente ao futuro"(Sérgio Gonzáles Rodriguez, México, 1950).

"Os grandes meios, portanto, com sua ânsia pelo imediatismo, acabaram com o prestígio da opinião repousada, elaborada, meditada. Acabaram com os registros que, por fim, definem a tarefa de um intelectual. (...) "O intelectual já sai comprometido desde casa. Não há um grau certo, não há um grau neutro onde se possa tomar partido. Cada qual ocupa um lugar dentro de uma hierarquia e isso já significa uma subordinação a uma forma de poder, seja qual for"(Eloy Fernández Porta, Barcelona, 1974).

"O século 20 se encarregou de mostrar como o socialismo cubano não soube conviver com a liberdade, e como as democracias latino-americanas não conseguem acabar com a pobreza. (Paz Soldán). "A questão fundamental, creio, é a do reconhecimento. Um mundo fragmentado, uma sociedade global onde se ignora o que está mais próximo, um sistema de poder silenciando os diferentes países enfiados até o pescoço na violência, populações pobres de solenidade". (Fernández Porta).

Que venham as Olimpíadas em 2016, pois desde já estão nos propiciando o reconhecimento do Brasil!

Que persistam essas solenidades, que mobilizam nosso patriotismo, enchendo o nosso peito de orgulho de sermos brasileiros, e que revigoram o valor de nossa cidadania e de nosso papel social!

Aurora Gite

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