quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um ano de existência, Aurora Gite?

E eis o tempo deixando sua marca implacável.
Quase não o sentimos quando fazemos algo que nos é agradável, e nos entregamos por completo a cada momento vivido.

Busquei uma autorealização em cada blog. Curti assim, e muito, o nascimento de Aurora Gite, e seu percurso durante esse ano de existência.

A escolha do nome representou a vivência que deu a maior guinada em minha vida. Doída por não estar fortalecida o suficiente para me bancar, não só psíquicamente a nível de uma boa autoestima, mas também com a formação de estrutura independente para me permitir a nível prático, uma boa qualidade de vida. Também tive o empurrão de fatores circunstanciais, imprevisíveis e muito desagradáveis, que, obrigatoriamente, me levaram a refletir sobre o que acontecia comigo e ao meu redor, buscando abarcar e compreender o que a vida estava tentando me mostrar, e eu como cega não conseguia enxergar e assimilar.

Como encadear todos os fatos e associá-los às qualidades das vivências foi meu maior desafio. Como efetuar a leitura adequada do que me acontecia, a fim de apreender o significado de tudo que me ocorria. Como aceitar e chegar a uma resignação mais harmônica dentro de mim ante tantas situações que fugiram a meu controle, foi minha maior conquista, pois demandou muita disciplina interna e constante reforço de méritos e amor próprio. Como alvorecer (aurora) no encontro com o ser só que habita nosso mundo interior, verdadeiro lar (gite) em essência humana, necessitou de muito esforço, dignidade e valorização como pessoa.

O surgimento do blog teve sua representação afetiva. A abertura desse espaço veio mais por um impulso e vontade de continuar me comunicando com algumas pessoas, que sabia estarem sendo muito importantes para mim por me permitirem somar experiências de vida e crescer internamente com esse agregar. As trocas efetuadas me permitiram maior autoconhecimento, além de me confrontar com o prazer genuíno da música e da pintura, aspectos tão distantes de minha vida, mais voltada , há anos, para vorazes e constantes atualizações de pesquisas e estudos dos fenômenos mentais. Sabia que faziam parte dos rápidos encontrões que damos durante nossas vidas, mas que nos deixam marcas profundas, que carregamos por toda nossa existência.

Registros nos blogs foram a forma de perpetuá-los e tornar mais viva essas presenças dentro de mim. Essa foi a maneira que encontrei de concretizar imagens, armanezadas com tanta lucidez através do disco rígido da memória, que contém as idéias abstratas que, se acionadas corretamente, podem ser nossa fonte inspiradora, força encorajadora em momentos de "blecaute".

Senti a perda de contato como colocado no blog "imprevisibilidade blogueira" . Mas essa perda me levou a refletir muito sobre a relação digital, o tipo de envolvimento buscado e o que se pode esperar. Não é uma relação tão fria e distante assim. Não se desliga um computador e a interrompemos, mas a carregamos pelo tipo de vínculo estabelecido. Torna-se assim uma fonte de autoconhecimento, para aqueles, que ousam a aproximação consigo mesmo, é bem verdade.

Coloco minha frustração inicial pela dificuldade de trocas mais consistentes. Até que pude exercitar leituras ante várias perspectivas.

Aprendi a respeitar as diferenças e a me aproximar dos blogs com os quais tivesse maior sintonia, como também aceitar os bloqueios que porventura adviessem ( não sem uma pontada de tristeza, pois, muitas vezes, o pouco contato entre blogueiros não permitiu nenhum "encontrão virtual" ).

O que seria importante para alguns, como usar o blog para discorrer sobre painéis de carros de luxo, sobre "status" em campos de golfe, sobre a solidão e importância de se situar ante tantos controles remotos, ou mesmo para aqueles que o usam mais como albúm de fotos familiares, não o eram para mim no início. Depois aprendi a admirar por si cada colocação, cada criação, cada comentário a respeito das mesmas. Tudo possui sua grandeza específica para cada blogueiro, tornando-se elo para a qualidade dos vínculos a serem estabelecidos.

Aprendi a diminuir minhas expectativas sobre possíveis retornos de pessoas catalogadas por mim com inteligência capaz de entrecruzar informações e me dar oportunidade, por esse contato digital, de crescimento profissional e pessoal. O que fazemos de nossas experiências é de nosso e exclusivo domínio. Minha vida ganha mais sentido com relações que me facultam ir além do que me é conhecido. As próprias relações assim se engrandecem e os elos se fortalecem e se renovam, não ficam patinando no marasmo da mesmice.

Queria rechear meu blog com assuntos que mobilizassem reflexões, que o tornassem um agente de transformação social e pessoal. Mesmo com temáticas cotidianas podemos conseguir tal profundidade de ação em prol de uma melhor qualidade de vida do ser humano, encorajando a um afastamento da sensação de fracasso e solidão, que assola nosso social durante esse momento de crises em várias dimensões. Como coloco em vários blogs, todas crises acabam afunilando para o encontro do ser humano consigo mesmo e com o que ele fez, de sua vida, até o momento presente. Embora sofrido para muitos, pode tornar-se o élan para novas escolhas individuais e busca de um existir mais feliz.

Essa foi e continua sendo a minha maior pretensão ao manter Aurora Gite, forma encontrada de conservar vivo um ideal, dando uma amplitude de sentido a uma meta de vida.

Agora é tocar para frente, com amor e entusiasmo, autovalorizando esse espaço em seu primeiro ano de vida.

Agradeço aos que se lembraram.
Ah, o dia 15 de outubro, comemoração do Dia dos Professores, foi por acaso. Agradeço a cada médico, enfermeira, técnicos em Radiologia Médica, profissionais de saúde que me deram seu retorno sobre como minhas aulas de psicologia prática influenciaram em sua conduta.
Aurora Gite

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