sábado, 25 de julho de 2015

Um pouco mais de Zygmunt Bauman (90 anos) ...

Indico o livro "Vida para Consumo: a transformação das pessoas em mercadoria"/ Zigmunt Bauman: tradução Carlos Alberto Medeiros - Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

A meu ver, muda o prisma do leitor quando antes do começar a ler uma obra, toma ciência do trajeto do autor. Esse fato não é tão difícil de constatar, querem ver?

Bauman, sociólogo polonês " teve artigos e livros censurados e em 1968 foi afastado da universidade de Varsóvia onde ocupou a cátedra de sociologia geral... Emigrou da Polônia, reconstruiu sua vida no Canadá, Estados Unidos e Austrália, até chegar à Grã-Bretanha, onde em 1971 se tornou professor titular de sociologia da Universidade de Leeds, cargo que ocupou por vinte anos... Atualmente, com seus 90 anos é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia". Ainda nos surpreende e faz por tornar seus 90 anos exemplo de, como depende de cada ser humano, querer enriquecer e se orgulhar da qualidade de seu viver.

No caso de Zigmunt Bauman, é um prazer enorme ler sua obra e seguir suas interpretações da dinâmica dos quadros sociais! Prima por expor, a cada livro, que continua a publicar, suas análises sociológicas e a articulação de suas ideias com o momento atual que as sociedades vivem. Coloca sua preocupação com o futuro - com 90 anos, por que não? - e realça sempre sua curiosidade em ver "para onde caminha o mundo" social (convívio coletivo) atual.

Mais ainda, de relevância capital, segundo penso, em sua trajetória de vida, com o desmoronar de sonhos de lecionar, e a garra e firme determinação de ir atrás dos ideais de docência, e mais, se tornando figura pública ao expor suas ideias a uma sociedade capitalista interesseira e preconceituosa, além de permissiva e desintegradora do social (coletivo) em sua liquidez de valores humanos.

Destaca a Zahar no livro acima: " Bauman tem cerca de trinta livros publicados por esta editora, dentre os quais destacam-se: Comunidade; Identidade; Amor líquido; Modernidade líquida; Vida líquida e Tempos líquidos." Continua: Em Vida para Consumo, Zigmunt Bauman explicíta e analisa o traço marcante da vida contemporânea que mais aproxima - os internautas que frequentam sites de redes sociais e estão sob o controle e gerência dos recursos tecnológicos -: a transformação das pessoas em mercadorias."

É fascinante acompanhar a perspectiva arguta e a facilidade com que Bauman desloca seu olhar sagaz e aprofunda, com perspicácia, sua analise das alterações dos quadros sociais ante a perda dos referenciais que possibilitavam a segurança do viver debaixo de valores éticos e de um autêntico humanismo regendo o convívio social. Hoje vivemos debaixo do que chama de mundo "líquido", "era incontrolável de interesses/incertezas/inseguranças e medos"... medos de viver, de forma serena e plena, de se entregar/confiar e de receber afeto leal e principalmente fiel, desconfiança geral que abala os alicerces dos relacionamentos afetivos e até as intimidades pessoais.

Sob uma visão realista se impõem descrições impactantes sobre o mundo atual. Em todos os seus livros é difícil não se adotar uma postura inquietante e questionadora sobre no que nós, seres humanos em potencial, nos transformamos. Como permitimos aquietar nossa alma indagadora e nos deixarmos manipular até nos robotizar seguindo a massa não pensante por si? Como direcionamos nossa força proativa em sua capacidade empreendedora para que exerça seu controle efetivo a não nos deixar sair das zonas de conforto, do ócio ou morte em vida, do comodismo preguiçoso?

Essas são as variáveis das quais a maioria se aproxima que repelem qualquer esforço renovador de energias internas e trabalho inovador que nos orgulharia pelo prazer advindo das autorrealizações. Nesse sentido, Bauman não só expande suas ideias, mas exemplifica com a oportunidade que nos dá de seguir suas vivências e seu estilo de vida. E isso nos remete a como estamos desatentos aos sinais que a vida nos encaminha através dos entraves e obstáculos que coloca em nosso percurso: muitos nos encaminham para aprendizagens que demandam desvios de rotas... outros nos direcionam para postergar ideais e substituir por planejamentos de metas possíveis para atingir novos sonhos.

E lá vem Bauman: "Uma vez que a permissão (e a prescrição) de rejeitar e substituir um objeto de consumo que não traz mais satisfação total seja estendida às relações de parceria, os parceiros são reduzidos ao status de objeto de consumo ... Uma 'relação pura' centralizada na utilidade e na satisfação é, evidentemente, o exato oposto da amizade, devoção, solidariedade e amor - todas aquelas relações 'Eu-Você' destinadas a desempenhar o papel de cimento no edifício do convívio humano." ( p.32)

Continua ele em suas constatações: "A vida 'agorista' tende a ser 'apressada'. A oportunidade que cada ponto pode conter vai segui-lo até o túmulo; para aquela oportunidade única não haverá 'segunda chance'. Cada ponto pode ser vivido como um começo total e verdadeiramente novo, mas se não houve um rápido e determinado estímulo à ação instantânea, a cortina pode ter caído logo após o começo do primeiro ato, com pouca coisa acontecendo no intervalo. A 'demora é o serial killer' das oportunidades... 'A prudência' sugere que
para qualquer pessoa que deseja agarrar uma chance sem perder tempo, nenhuma velocidade é alta demais... " (p.50) . Vale refletir atentamente sobre suas metáforas!

Zigmunt reconhece que  "na vida 'agorista' dos cidadãos da era consumista o motivo da pressa é, em parte, o impulso de 'adquirir e juntar'. Mas, o motivo mais preemente que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de 'descartar e substituir'." (p.50) E que, na 'cultura agorista consumista', onde a 'busca da felicidade é usada como isca nas campanhas de marketing', querer que o tempo pare  é sintoma de estupidez, preguiça ou inépcia. Também é crime de punição." (p.51)

E por aí desenvolve suas ideias sempre conduzindo suas reflexões ao que fez com que de pessoas nos transformássemos em mercadorias dentro da sociedade de consumo, como deixamos de lado nossa autocrítica, nosso poder, livre arbítrio para escolher e liberdade para decidir conforme nossa vontade e ética internas direcionarem.

Aqui acrescento que, cada vez mais, ante novas descobertas subatômicas, e avanços também na tecnologia eletrônica - que nos faculta a comunicação não local por meio de ondas e frequências Hertz -, se mostra obsoleto (defasado), para acompanhar as leituras dos fenômenos do milênio, o paradigma mecanicista newtoniano da Física Clássica, e se expõe a necessidade de abertura aos conhecimentos do  novo paradigma da Física Quântica.

Aos que quiserem permanecer em atitudes rígidas e radicais, na segura mesmice mecanicista em seu atual e comprovado reducionismo interpretativo dos fenômenos da natureza... "é tudo uma questão de tempo" para que a perspectiva do paradigma quântico em sua incerteza, ondas de possibilidades e partículas de probabilidades se imponham, e suas visões de mundo e de homem se ampliem e se modifiquem!

Aurora Gite

P.S. Quem se interessar por assistir vídeos de entrevistas dadas por Zigmunt Bauman, ainda estão disponíveis no Canal YouTube.

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