domingo, 1 de maio de 2016

O desafio do educar para o milênio

No milênio com acelerado avanço tecnológico, onde a educação se volta ao caráter inovador e empreendedor, novo abismo se abriu em minhas análises ao assistir, estarrecida, as sessões da Comissão de Impeachment do Senado.

Lá vinha eu tentando montar o perfil do educador para o profissional que nosso milênio demanda, qual seja; * autêntico em suas descobertas aplicadas a uma prática de vida cotidiana;
*  com seu espírito criativo, autonomia e liberdade de pensar continuamente sendo estimulados;
* com sua determinação e firmeza voltadas para um querer-fazer-acontecer,que só tende a ocorrer ao ocupar um espaço social que lhe é devido pela qualidade de suas intervenções na sociedade;
* com assíduo incentivo ao orgulho pessoal por realizações concretas, e a contenção da cegueira ante vaidades despertadas por "tornar-se um ser único e singular em meio ao coletivo onde se inserir";
* com a ambição e perseverança do empreendedor proativo, eficiente e eficaz, que busca trazer ideias inovadoras e transformadoras para a evolução cultural do mundo contemporâneo; que traz para o presente não só suas aprendizagens do passado mas suas metas desenvolvimentistas futuristas, sempre podendo se voltar a novos planejamentos estratégicos e novas logísticas visando melhorias a seu redor.

De repente, fui obrigada a conter meu espanto. Ideias "quixotescas" quanto aos nossos homens públicos, que poderiam zelar por nosso bem e segurança como cidadãos que os elegeram, garantir a integridade e dignidade, a justiça e a honestidade,do que por direito cabe ao povo, de quem deveriam ser porta-vozes, foram caindo por terra...A sobrevivência mental só subsistiria ante a construção de fantasias tipos de moinhos de vento, cavalos e não pangarés, amadas e não mulheres feias e fedidas, armadilhas quebradas no corpo de um herói velho, pobre e alquebrado, ora louco e ora palhaço... que se dizia preocupado com a justiça, com a moralização da cultura, com a dignidade humana, com valores que alicerçassem um bem comum. Quem servirá de um Sancho Pança realista, escudeiro fiel, baixo e gordo, que tenta mostrar a realidade a quem segue servindo?

Quem mostraria o mundo real desse plenário parlamentar em sessão tão longe da dignidade ética, respeito a honestidade, lealdade e fidelidade, credibilidade política... para que se consiga a transformação de um governo tão omisso e corrupto?

Sonhos e fantasias foram sendo desconstruídos a cada intervenção parlamentar e de lideranças. Onde estava o homem justo, preocupado com a questão política? Onde estava a consciência de cada um de nossos representantes na luta por uma política do bem comum? Como analisar com isenção, corretamente, tantas variáveis, distoantes com a conduta de um bom político? Como acompanhar a articulação de ideias, se conteúdos foram desprezados, em prol do tempo formal de minutos (5, 3, 2 ou 1 minuto), se raciocínios eram interrompidos constantemente por manipulações maldosas cujo intuito era não permitir um discurso lógico?

Constituir um diálogo é obra de arte na política, Cervantes em seu "Dom Quixote" nos faz refletir sobre a consciência do homem, que tem que ser justo ante quaisquer circunstâncias. Aborda a arte de buscar o equilíbrio entre sonhos e a realidade. Nesse sentido, projetos são sonhos e o importante é aproximar o sonho da realidade, no intercâmbio contínuo da construção e desconstrução de nossas fantasias. Como sonhar com um mundo melhor, com um governo menos corrupto e mais justo com o povo? Como desconstruir o que "não se vê", cegueira dos que estão convictos de crenças e ideologias em nada realistas? Como dialogar com armas de provas e evidências, se as interações se voltam a ataques pessoais voltados a interesses outros que a verdade dos fatos apontam?

Para os que conhecem a estória do Rei que se deixa influenciar por alfaiates ardilosos e ambiciosos que cobram altos custos pelo traje de seu desfile, fios de ouro invisíveis, manto grandioso só visível aos puros... Acredito que o nome seja "A roupa nova do rei". Acaba o Rei desfilando nu, certo que trajava uma roupa suntuosa, digna de um imperador. Todos espantados o contemplavam, até que um menino grita em altos brados rindo: "Olhem, o rei está nu!"

Acredito que o representante do PSD/MT, Senador José Medeiros, posteriormente acompanhado do Senador do PSDB/PB, Cássio Cunha Lima, nos confrontam com o fato da existência de " grande perigo, um bicho que tem cara de gato, corre atrás de ratos, mia como gato... mas que o governo e muitos do plenário, querem nos fazer crer que não é um gato! Qual será o bicho que não pode, apresentando essas evidências, assim ser nomeado?"

Pediria, aos estudiosos das áreas da saúde mental, que transformassem essas sessões em laboratórios de pesquisa e se imaginassem observando as interações dos "doutos senadores da República" , neutros em salas de vidro superiores, que abrangessem as atitudes dos mesmos no amplo plenário: as conversas paralelas, os papos nos celulares, os quitutes saboreados,os chistes que faziam rir os que estivessem ao redor desconsiderando o respeito ao ambiente parlamentar e quem estivesse discursando, o menosprezo às ideias e argumentos apresentados por quem estivesse se utilizando do microfone... Torre de Babel... opiniões se atropelando, tempo de fala dos adversários até cronometrados, luta por quem fala segundos a mais, disputa por ter seu tempo de explanação além dos colegas "por direito, por equidade..." interrompidos por "questão de ordem" de minuto a minuto...

 Luta por interesses individuais além do coletivo, do bem comum... Sessão de horror, se considerássemos os valores morais implicados. Sanatório de loucuras, sem limites para insanidades, sem respeito a frágeis colocações de limites por parte de líderes frágeis e também perdidos, líderes com dificuldades para conter o ataque de insanos... Haja visto, testemunhas serem convidadas, mas o viés distorcido direcionou várias cobranças. Chegaram no horário estipulado. Questão de ordem do plenário inverteu aprovações de outras questões em vez de ouví-las. Esperaram cerca de horas. Aprovação ou rejeição de outras questões colocaram em ebulição "feiresca" a maioria do plenário. Existiam senadores conscienciosos, que assistiam atônitos, mas impotentes. Qualquer tentativa de colocarem limites e pedirem atenção e respeito,"atraíam sobre si os impropérios dos incautos". Voltavam a calar-se em prol do próprio bom senso. Que o povo julgasse! Tudo estava sendo televisionado, toda "espetacularização" estava sendo registrada!

E meus pares estudiosos da saúde mental... e eu... que nos questionássemos acuradamente sobre a  clínica que observávamos...o Sanatório Público repleto de atitudes insanas, amorais e antiéticas. A entrada nesse Sanatório é passagem obrigatória e constitui o desafio do educar para o milênio. Não é fácil o aprendizado para o saber discernir o que nos é próprio, do que nos é projetado e acabamos incorporando por receio de sermos rejeitados por nossos pares, inclusive. Não é fácil nos bancarmos ao nos expormos, ao manifestarmos quem somos realmente, e aprendermos a tolerar a intolerância dos divergentes que tentam doutrinar e não debater ideias. Não é fácil nos orgulharmos de quem somos, com nossos pontos fracos e fortes, e continuarmos a evoluir lutando por um social melhor, mais justo e digno, e pela contínua conquista cotidiana visando o bem-estar coletivo dentro de sociedades tão desiguais e hoje ainda tão desumanas.Não é fácil derrubar currículos obsoletos, didáticas visando acúmulos de informações sem estabelecer os vínculos com a praticidade cotidiana... verdadeiros moinhos de vento no ensino que temos que enfrentar ante a cegueira dos governantes na área da educação e pouca disponibilidade para mudanças efetivas, além do aparato quixotesco irracional e distorcido.

Lúcia Thompson

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