quarta-feira, 1 de junho de 2016

"Jornadas para além do espaço e do tempo"

O assustador e encantador é a capacidade de alguns pensadores se aventurarem a descrever com presteza e agudeza o que acontecerá em uma época futura. Não há como deixar de indicar as ousadas articulações do físico Fritjov Capra em seu livro "O Ponto de Mutação", sem esquecer de mencionar as ideias desafiadoras de sua obra anterior "O Tao da Física (Tao=Caminho):
" Em O Tao da Física, Fritjov Capra desafiou a sabedoria convencional ao demonstrar os surpreendentes paralelos existentes entre as mais antigas tradições místicas e as descobertas da Física do século XX. Agora, em O Ponto de Mutação, ele mostra como a revolução da Física Moderna prenuncia uma revolução iminente em todas as ciências e uma transformação da nossa visão de mundo e dos nossos valores."

Espantoso é que "O Ponto de Mutação" (São Paulo: Editora Cultrix, 1995) traz como data de seu original ("copyright") o ano de "1982", portanto, nos foi oferecido há 34 anos, e nos confronta com aguda crítica ao pensamento cartesiano e necessidade de mudança para um paradigma holístico. Capra propõe a abertura de terapeutas para a adoção de posturas ecléticas, abraçando técnicas e recursos de várias teorias de acordo com a demanda dos pacientes/clientes. Defende a substituição de rígidas e obsoletas estruturas conceituais por compreensões mais abrangentes abarcando sistemas, mais de acordo com a realidade que desponta, sofrega por novas perspectivas inclusivas de vários saberes em conexão interdependente para o futuro.

Pontuo que, em suas considerações, não deixa de citar as implicações filosóficas da ciência moderna:
"Essa nova visão inclui novos conceitos de espaço, de tempo e de matéria, desenvolvidos pela Física subatômica; a visão de sistemas emergentes de vida, de mente, de consciência e de evolução. a correspondente abordagem holística da Saúde e da Medicina. a integração entre as abordagens ocidental e oriental da Psicologia e da Psicoterapia; uma nova estrutura conceitual para a Economia e a Tecnologia; e uma perspectiva ecológica e feminista."

Fascinante o painel montado por Capra no capítulo 11 (p.351 a 379), que intitulou "Jornadas para além do espaço e do tempo", onde descreve o conjunto de ideias de muitos estudiosos da mente humana, enfatizando o registro de suas teorias sobre a psique, a formação de suas escolas e o relato minucioso de suas estratégias terapêuticas. A mim se destacou que aborda a origem das ideias e as críticas que foram surgindo com o passar do tempo e novas descobertas tecnológicas abrindo horizontes para novas perspectivas, leituras e interpretações sobre os fenômenos observados.

Vai da Psicanálise de Freud  a Jung, citando Reich, Otto Rank, Adler e Horney em sua preocupação com aspectos socio-culturais (p.177).  Vai de Maslow a Rogers com a criação além do behaviorismo e da psicanálise, da corrente humanista considerada a "terceira força", passa por Perls e a psicologia gestáltica, rumo à psicologia transpessoal. Vai dos pesquisadores dos fenômenos extrassensoriais e transcendentais até à gama de estudiosos inovadores em suas buscas de compreensões de estados alterados de consciência, autorrealizações e autotranscendências, os relacionando às perspectivas de Ken Wilber, sua psicologia do espectro e seus 4 níveis terapêuticos do ego, biossocial, existencial e transpessoal ou nível do Espírito.

Interessante como retorna a Jung ao afirmar que "parece que a abordagem de Jung estava no rumo correto". Transcreve a frase do próprio Jung: "Mais cedo ou mais tarde, a física nuclear e a psicologia do inconsciente se aproximarão cada vez mais, já que ambas, independentemente uma da outra e a partir de direções opostas, avançam para território transcendente... Psique e matéria existem no mesmo mundo, e cada uma compartilha da outra, pois do contrário qualquer ação recíproca seria impossível. Portanto, se a pesquisa pudesse avançar o suficiente, chegaríamos a um acordo final entre os conceitos físicos e psicológicos. Nossas tentativas atuais podem ser arrojadas, mas acredito que estejam no rumo certo". (Jung, 1951a, p.261).

Capra foca no sucesso dos "praticantes de psicoterapias experimentais, que estejam familiarizados com o novo paradigma que está agora emergindo da física moderna (subatômica), da biologia sistêmica e da psicologia transpessoal, a fim de que possam oferecer aos seus pacientes não só poderosas estimulações de experiências, mas também uma correspondente expansão cognitiva". Estimulante sua descrição sobre os atributos essenciais de um bom terapeuta (p.378), lembrando que "O Ponto de Mutação" foi escrito em 1982 e que, nessa época, já abordava a importância, no processo experimental e na "jornada curativa", da relação interpessoal terapeuta-paciente.

Sem dúvida na montagem do perfil do profissional de saúde mental, Fritjof Capra, sobrepôs as qualidades necessárias para atender a nova visão de mundo e de realidade, cruzando ao quadro das redes conceituais da novas ciências:
"Na concepção sistêmica de saúde, toda enfermidade é, em essência, um fenômeno mental, e, em muitos casos, o processo de adoecer é invertido do modo mais eficaz através de uma abordagem que integra terapias físicas e psicológicas. A estrutura conceitual subjacente a tal abordagem incluirá não só a nova biologia sistêmica, mas também uma nova psicologia sistêmica, uma ciência da experiência e do comportamento humanos que percebe o organismo como um sistema dinâmico que envolve padrões fisiológicos e psicológicos interdependentes e está inserida nos mais amplos sistemas interagentes de dimensões físicas, sociais e culturais." (...)

"Ao se aventurarem a fundo nos domínios existenciais e transpessoais da consciência humana, os psicoterapeutas terão que estar preparados para enfrentar experiências às vezes tão incomuns, que desafiam qualquer tentativa de explicação racional. Experiências de natureza tão extraordinária são relativamente raras, mas até as formas mais brandas de experiência existencial e transpessoal, apresentarão sérios desafios às estruturas conceituais convencionais dos psicoterapeutas e de seus pacientes, sendo que a resistência intelectual (barreira cognitiva) às experiências emergentes tenderá a impedir o processo curativo." (Capra, p.379).

E eu encerro com algumas considerações quânticas, ao afirmar que por trás do sintoma existe uma ideia central e que se facilitarmos a expressão, quer seja pela fala ou outra representação, a liberação da energia afetiva investida em épocas remotas, ocorre a jornada para além do espaço e do tempo com a presentificação de conflitos ou traumas, para o momento atual dos pacientes. Ao ampliarem sua consciência, ante "insights compreensivos" e assimilação das informações, dão um "salto quântico", passam a outro nível dimensional. Sendo assim alterações bioeletromagnéticas, a nível de operações quânticas (subatômicas) vão gerar neurotransmissores que, por sua vez, vão alterar o funcionamento bioquímico e diversos sistemas orgânicos das pessoas, como o sistema imunológico.

"A verdade do paciente, assim o é para ele; é essa e não outra, embora não seja a Verdade Última.
Essa verdade não sendo atingida por "insights" ( compreensões durante o processo terapêutico) será imposta por si mesmo através de experiências impactantes como divórcios, desempregos, doenças etc. Sempre se é obrigado a "questionar" a visão de realidade, e "rever" toda a visão de mundo que se tem. Sempre se é impelido a "mudar  estilos  de vida", na busca de harmonia interior e bem estar no viver. Sempre é necessário providenciar o "alinhamento atômico"; o  átomo dentro de nós vibra constantemente, não pára!"
(Helio Couto)

Para quem tiver interesse em melhor entender mecânica quântica e seu campo de aplicação prática, indico o vídeo com a palestra (ou aula?) de Helio Couto no YouTube, publicado por Eduardo Nessho, em 01 de junho de 2014 :
"Ondas de IN-Formação".
https://www.youtube.com/watch?v=4jPMUggM4uM

E não se surpreendam ao perceberem como evoluíram, ou como estão aprisionados nas crenças, no espaço e no tempo da ciência embasada na Física Clássica.

Lucia Thompson


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