domingo, 18 de setembro de 2016

Entre os "pares"? Lugar de inveja,competição,humilhação e muito mais...

Lá estava eu, sentada há tantas horas (das 9:00h às 14:00h?) após ter me aventurado como profissional da saúde a um concurso público em famosa instituição hospitalar. Aprovada na parte teórica e dinâmica de grupo, após a devida entrevista que também me selecionou, respondendo a uma convocação para me apresentar tal dia... a essa hora, para tomar ciência do setor em que iria trabalhar. Meu primeiro contato com a burocracia hospitalar, com a negligência de pares hierárquicos, com o papel de ministros exercido por chefias administrativas que a tudo comandavam como se fossem primeiros escalões - interferindo até em decisões de meus pares e em funções de diretorias. Na pseudo receptividade de pares, eu era mais uma a evitar que se destacasse e pudesse abalar a posição de conforto e as vantagens pessoais de muitos "colegas". Era mais conveniente deixar tudo como estava, dar continuidade ao "status quo" vigente na organização. Inovar para seu desenvolvimento demanda esforço e criatividade para implantar e manter!

Meus primeiros diagnósticos da organização, começando a conhecer sua logística atual me espantou, mas acima de tudo se destacaram os "desperdícios". Atitudes virtuosas voltada a vontade de autorrealização e alto desempenho foram golpeadas pela primeira marca de ser profissional de nível superior no funcionalismo público: pensar que estava sendo remunerada por todo aquele tempo parado, para que então a pressa em assumir meu cargo e assistir à pacientes necessitados e ir contra essa estrutura montada há anos? Esperava que pudesse exercer meu profissionalismo após minha escala ser efetivada, pois se havia um horário oficial a partir de 7 horas e pacientes chegavam para atendimento às 6 horas, podia entrar antes e atender a demanda da clínica. Ledo engano, logo os pares se insurgiram: entendiam minha intenção, recordavam do juramento profissional, mas não podiam perder as vantagens conseguidas se por acaso ousassem defender minha postura e me apoiassem!

E realmente ocorreu um sucedâneo de decepções, começando pela negação de minha parceira responsável pelo setor de psicologia da Clínica Radioterápica, a primeira onde fui escalada para prestar serviços. Faltavam meses para terminar o curso de Psicodinâmica do Sedes (terças e quintas à tarde), porém tive que desistir observando a reta de chegada, pois minha "parceira" houve por bem, sendo a mais antiga, escolher o horário que me obrigava a assumir às terças, quintas e sextas à tarde, se recusando a qualquer tipo de negociação mesmo que assinalando a temporariedade da decisão. Mas não parou aí! Após 1 semana, mais ou menos, estarrecida ouvi: "Não estou me sentindo bem com sua presença! Quero que peça para ser transferida!". Ante minha recusa e outorgando a ela essa atitude perante nossa chefia, continuei a escutar atônita: "Vou tornar sua vida um inferno por aqui e entre os pares, você vai ver!" E fez isso. Outra lição organizacional: como é fácil se difamar, plantar calúnias, montar alianças para divulgar infâmias; a ponto do desrespeito se estender à sua estagiária - que, por sua vez, terminava seu Curso de Psicanálise - ao passar por mim sussurrar direto impropérios inomináveis denotando seu caráter perverso; da assistente social interromper meus atendimentos retirando os pacientes, que estavam sendo atendidos por mim, para passarem em entrevista com ela, sob a ameaça de não atendê-los em outro horário; envolvendo no conluio o próprio diretor com mentiras de que minha intenção era "passar-lhe a perna". Acabou ela não aguentando, com filho recém  -nascido, a jornada dupla em casa, oficializando seu pedido de demissão. Mas o estrago, a meu redor, estava feito. Ah! A estagiária, citada acima, passou a ficar sob a supervisão de nossa chefia e logo foi "convidada a pedir exclusão do quadro de aprimorandas" da referida instituição. Sua inadequação e seu caráter perverso ficou diagnosticado. Por que não pela minha parceira? Deixo para vocês responderem...

Honrada com o convite de representar a Radioterapia no Plano de Governabilidade em união com FGV. Apresentei projetos logísticos de peso, pois sempre recebia parabéns e, de minha diretoria, frases como "Gostei do Projeto de Psicooncologia que me encaminhou, vou colocar algumas vírgulas e vamos conversar a respeito" (nunca mais vi meu projeto, soube que foi implantado pela Divisão um Projeto de Psicooncologia, cuja coordenação coube a um "par"). Como explicar as inquietudes do médico clínico, diretor interino da Radioterapia, que veio me questionar sobre o porque de minha escolha para representar o setor sendo psicóloga? Represálias vieram em seguida as indagações sobre o porque tínhamos uma sala para atendimento e supervisões de estagiárias, e ele não tinha espaço para suas supervisões... logo o espaço foi retirado e a Divisão de Psicologia houve por bem não mais prestar serviços de psicologia ao setor. Pouco tempo depois ocorre a separação e alteração do organograma das unidades hospitalares, sendo criado o Instituto de Radiologia.

Aí assumi a chefia dos serviços de psicologia na Divisão de Odontologia (fobias - dor crônica - e transtornos vários decorrentes de diversas patologias). Fui indicada pela própria Diretora do setor, que afirmou que eu era a profissional responsável que ela queria. Meu "par", que estava respondendo há mais tempo, não me perdoou. Foi deslocada para outra clínica e junto levou seu saquinho de difamações; cruzava comigo em reuniões clínicas e me virava o rosto... fez seus conchavos e seu compadrio se agregou a seu redor. Buscava intercâmbio para análise de casos clínicos mas se recusavam dizendo não entender minha forma de atuar ( a maioria era psicanalista, havia uma comportamental cognitiva e uma junguiana na equipe de então), não abrindo espaço para ouvir sobre a adequação racional e pertinência de minhas intervenções, ante o feedback das reações positivas dos pacientes.

As situações se repetiram e com a aposentadoria da diretora, a equipe que assumiu logo passou a questionar a sala em que eu estava para expandir suas reuniões, mas ela era dentro da sala de espera, não sendo interessante a exposição dos odontólogos, contato direto com os pacientes em seus queixumes. A estrutura de atendimentos psicológicos, nesta Clínica, foi desmontada ante a intervenção da nova equipe de coordenação de supervisores, que passou a supervisionar os quadros clínicos, lacanianos interferindo diretamente na minha forma de atuar ( era a única que defendia postura eclética nas intervenções aos pacientes e no caso da Divisão Odontológica, reputo como a mais adequada pois as diferentes formas de atendimento são contempladas em intervenções psicológicas de acordo com a demanda dos pacientes, que se beneficiam com variados recursos psicoterapêuticos).

Participei com um "grupo de pares", auxiliando em "seleção de aprimorandos". Nova lição: abaixar a cabeça precisando do salário para acatar ordens autocráticas e antiéticas ao ouvir frases como: "Sou coordenadora, mas no momento só comunico ordens da Diretoria. Temos que propiciar a inclusão da filha da Diretora de Enfermagem! Existem "x" estagiárias (3 ou 4) na frente dela, que passaram na seleção? Essas aprovadas devem ser desprezadas!"

E eu me questionava internamente: "O que eu estou fazendo aqui?".
Procurei sempre não me envolver em confrontos ostensivos afetando a hierarquia organizacional. Abraçava o silêncio e continha a angústia. Não me permitia ser arrastada em ações antiéticas, me agarrando e respeitando meus valores éticos. Isso incomodava os que adotavam posturas antiéticas. O falso poder, para se manter, exige submissões vis!

Alguns pares tentaram se insurgir, mas logo percebemos o que é estar dentro dessa engrenagem de hierarquia centralizadora e ditatorial, e mais adiante, sentimos o que é ser "laranja" ante a inclusão dos ministros (chefias administrativas) que abocanhavam o que por direito cabiam aos psicólogos envolvidos em Programas de Educação Continuada ou Aprimoramento Contínuo. Inclusive Núcleos de Estudos, com verbas à parte, foram deslocadas para casa de uma das diretoras, que resolveu alugá-la para os eventos, cursos e aulas (nepotismo e privilégios da diretoria?). Já estava visível a mordaça colocada entre os "pares" e as fortes represálias aos insurgentes. Eu era uma insurgente, que recusava colocar uma viseira, além da mordaça. Havia um limite para se acatar ordens antiéticas e irracionais, assim pensava eu. Na minha profissão brincar de "faz-de-conta", distorcendo o real, pode transformar a realidade de tal maneira, que as núcleos psicóticos tem suas brechas e afloram intempestiva e agressivamente. É horrível se observar isso entre os pares, profissionais da saúde mental que não percebiam essa dinâmica "psicotizante" atuando: "Estou passando a seu lado, mas você não está me vendo!" - "Meu consultório é aqui perto, vou atender uma paciente lá e já volto, mas para todos estou em minha sala aqui no hospital, ou dando alguma palestra, ok?"

Bem, após 12 anos, lá estava eu, convocada por duas diretoras, onde fui comunicada que continuaria lotada na Divisão de Psicologia, mas devia procurar outro setor dentro do Complexo Hospitalar para exercer minhas funções, pois iria ser disponibilizada, embora fosse um período em que algumas pacientes haviam encaminhado à Ouvidoria elogios a minha atuação profissional. Coerência do "discurso totalitário: não há espaço para questionamentos". A decisão já está tomada em caráter irrevogável, foi o que ouvi com assombro! E mais: "Não quero que se aproxime do Instituto de Psiquiatria, pois estamos realizando Programas Educacionais juntos". Nada a fazer, pois por trás dela, estava um QI (quem indicou) de peso da área clínica do hospital (falecido logo depois dessa reunião) e uma "ministra administrativa" dizendo "Ferro com quem dificultar o esquema interno com muito questionamento!"

Quantos meses fazendo minhas pesquisas nas vastas mesas nos corredores das várias unidades hospitalares, das lanchonetes, das bibliotecas... convivendo com rejeições, com injustiças, com vontade de produzir, com ver o desvio de projetos, com o jorrar de inovações criativas sendo sequencialmente engavetadas e não encaminhadas para que fosse tomada ciência - e eu protocolava, hein! Como conter o desconforto de minhas frustrações em suas variadas áreas e, inclusive, acolher as ansiedades de estagiárias, que haviam sido proibidas de se aproximar de mim, de me dirigir a palavra ou sofreriam represálias, e que me pediam desculpas por terem que acatar as ordens recebidas da psicóloga responsável por seu estágio, sem saber o que fazer... não podiam perder esse ano de investimento em sua vida profissional. Outra lição na vida institucional: aprender a otimizar o tempo e investir em si mesmo, acima de tudo ter muita cautela na vida de relação ("networking").

O elo afetivo quando se é comprometido no que se faz é imenso. Difere muito dos terceirizados que investem temporariamente sem se engajar com a organização. Clínicos que se utilizam da instituição para créditos em suas pesquisas, vão aplicar fora dela o que aprenderam e reverter os títulos alcançados em sua vida profissional pessoal. Na época minha esperança é que esse quadro situacional se reverteria. Na época investia em muita leitura para minhas pesquisas, em elaborar projetos que esperava caíssem nas mãos de pessoas certas. Enviava a muitos, mas tinha conhecimento de que eram engavetados por assessores com receio de que seu espaço fosse questionado e perdessem sua zona de conforto e que sua falsa confiabilidade fosse descoberta.

Assim cheguei ao Instituto de Ortopedia onde um grupo buscava estudar as dimensões de energia e níveis de consciência, a religião, o espiritismo, a mediunidade, a parapsicologia, a telepatia; e já procurava a compreensão de técnicas acupunturistas de grande efeito para aliviar dores agudas e controlar dores crônicas e quadros ansiosos. Extasiada frequentei as reuniões desse grupo em horários extras, nada interferindo na escala oficial. Outro aprendizado: Congressos e Seminários distribuídos entre funcionários administrativos por assessores de executivos, eram instrumento de troca, onde os que se interessavam por assistir e aprender eram os que frequentavam verdadeiramente, mas quem respondia pela frequência era quem recebia o convite e embora ausente agregava pontuação em seu currículo.

Pouco permaneci na área clínica, do Instituto de Ortopedia, ante a perseguição mais sórdida e aviltante, onde o interesse era que avaliasse pacientes e anotasse nos prontuários, onde segundo a diretriz da psicóloga responsável a assistência não era prioridade pois pouco se poderia fazer com o escasso tempo de atendimento - e ela era psicanalista! - Além disso eu, pessoalmente não poderia me dirigir aos médicos diretamente; era tudo por seu intermédio. E mais, eu não poderia mais frequentar as reuniões clínicas dos engajados com dor crônica, as quais em todos os anos anteriores nunca deixei de participar.

E eu por dentro: Ah, agora não! Basta! Não tenho mais condições internas para conviver com essas violentações à minha integridade pessoal. Aprendi como funcionários públicos subalternos são tratados como se não fossem concursados, mas empregados pessoais de chefias e não da empresa que os contratou e podem reivindicar a ela. Tentei apelar, mas existe o perigo do aprisionamento a algemas da gratidão, mais do que o respeito a si próprio e aos valores éticos. A cadeia dos funcionários administrativos interceptam o fluxo da entrega de quaisquer demandas, pedidos protocolados, e quaisquer esclarecimentos retorno, se por ventura, houvesse. Toda comunicação, nesse sentido, era controlada e facilmente manipulada por eles. E eu
precisava de mais quase dois anos para alçar voo e iria aguentar... mas para sobreviver psiquicamente e respeitar uma curiosidade inata, precisava me aprimorar como pessoa e "criar projetos" das ideias que jorravam e clamavam por articulações com conhecimentos já existentes, e que pudessem valorizar o setor.

Pedi para fazer parte, como psicologa organizacional (também tinha diploma para tal). Porém havia uma sensação de ameaça nos profissionais assistentes sociais, relações pública, assessorias diretas, pedagogas... todos ao se aproximar logo expressavam seu medo de que fosse ocupar suas funções ou manifestavam desconhecimento das atribuições de uma psicóloga: "Não sei como lidar com você, imagino você 'fazendo cabeças' aqui dentro", frase de uma assessora, a maior perseguidora. Os elogios do diretor ao desengavetar um projeto meu de amplo alcance, aumentou esse clima belicoso ao meu redor. Percebia quando a assessora do atual diretor executivo, a cada passo consultava a ex-diretora do quadro da enfermagem. Ops! Eu era fiel e admirava o atual diretor executivo, um médico cardiologista na função administrativa. Queria implantar Núcleo de Qualidade, responsável por atendimento psicológico aos funcionários internos, por estudos e pesquisas nos vários setores abarcando a etiologia dos afastamentos no trabalho entre outras variáveis, montando programas de educação continuada, elaborando perfis profissionais e realizando processos seletivos (até então eram aleatórios e realizados por enfermeiras ligadas à ex-diretora acima mencionada). Toda essa montagem foi interceptada por essa equipe, que se apropriou desse design logístico. Ao voltar de férias, psicóloga organizacional fora contratada para exercer essas funções junto comigo e nossa... conviver com distorção de caráter para se manter no poder é difícil! A mesa,ocupada por mim, foi virada para a parede; pegou para uso próprio a cadeira que eu usava; passou a dizer que horários de reunião tinham sido alterados ( e eu cruzava com o diretor que dizia ter notado minha ausência); queria que assinasse presença em programas elaborados por nós (recusei e contestei, mas ela havia convidado outras psicólogas de outros institutos sem me avisar); conseguiu que a assessora interviesse para me afastamento do setor e trocou a chave sem me comunicar ( e eu tentando abrir a porta para entrar na sala, onde ainda estavam meus pertences pessoais... podem imaginar? Humilhação parecida senti quando me deu para corrigir um carta que escrevera... eu o fiz e disse que precisávamos de auxiliar administrativo para digitar... e ouvi: "Mas você está aqui para que?" - Acreditam que 'ouvi isso de um de meus pares'!

Novos meses nas grandes mesas de longos corredores... tentei ocupar uma salinha de 2m por 2m, mas logo a assessora interrompeu o aval do diretor, e passaram a guardar tralhas nos local... voltei aos corredores, mas até aí incomodava. Só sossegaram quando retornei à Divisão de Psicologia. Aí eu já precisava de poucos meses ... Fiquei na Biblioteca do Instituto Central e aproveitei o ostracismo imposto para me aprofundar em minhas pesquisas envolvendo a saúde mental no design organizacional.  Eu me orgulhava do jaleco que usava, com meu nome no bolso. Lutei muito por isso. Sabia ser boa profissional, nada havia que desabonasse meu desempenho. Sentia enorme prazer ao andar pela galeria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e contemplar o retrato de vários parentes "Doutores Professores..."! Posteriormente soube que esse patrimônio histórico estava incomodando e existiam projetos para que não mais fosse conservado. Era, a meu ver, um assassinato à memória da Faculdade de Medicina!

Meu último projeto criava um Núcleo de Desenvolvimento abrangendo assistência, ensino e pesquisa. Foi enviado por mim em julho e pelo diretor executivo, com minha aquiescência, para a equipe da Superintendência que havia se unido ao grupo da FGV.
Nunca mais soube dele!
Em novembro saiu no Diário Oficial a criação do Núcleo de Desenvolvimento por eles.
A mim coube a pergunta sobre "Quem montou esse projeto?"
E o orgulho pessoal de verificar "Quanta semelhança!"

 Comentei recentemente:
 "Ser-Ter-Parecer-Aparecer" equivale a "Tornar-se para o Outro". Agora pode iniciar-se novo trilhar interno, de acordo com o "Livre Arbítrio" de cada um de nós, o "Tornar-se para Si" Ao alinhar "Existir e Ser em Essência" - energia espiritual ou quântica a meu ver - pode descortinar-se uma "Etica Superior", subjetiva, força vital interna advinda de "Valores e Virtudes", fenômenos dinâmicos de uma energia endógena. Eta trilha difícil para se manter na conduta, que nos parece reta (certa), para não desviarmos desse "Religar-se à Energia Vital" que nos é inata, seguindo as pistas de nossas Percepções Sensoriais"!

P.S. : Qualquer comparação com o que passam, hoje, muitos brasileiros, sujeitos a empregos públicos, é mera coincidência!
Minha sorte é que minha bagagem profissional e de caráter me ajudaram muito a conservar minha integridade ética pessoal!

Lúcia Thompson

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