quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Por que não curtir desde agora?

Para quem é pai e para aqueles que ainda serão...

Topam curtir comigo esse texto e refletir sobre as considerações que teço sobre ele? Acredito que na rede das ideias ocorre o mesmo processo das redes sociais, daí tanto me cativarem e me mobilizarem a acompanhar suas articulações e transformações na construção dos conhecimentos estruturais da sociedade de seres humanos. Vão ter papel decisivo na formação de uma nova humanidade, pensem nisso, e em como vão abrir seus espaços, participando ativamente dentro dela?

Será que é preciso esperar datas marcadas pelo "mercado e marketing" para comemorá-las? Por que não podemos curtir desde agora? Por que precisamos esperar datas estipuladas pela cultura em vez de manifestar nosso carinho espontaneamente, cultivando os contatos com quem nos afeta pela via do amor, com a humildade interna para um diálogo pacífico e construtivo?

Sant'Anna foi muito feliz articulando suas ideias nesse texto, que divulgo para que vocês confiram por si mesmos. Vale muita reflexão sobre seu conteúdo, sem cobranças e exigências de posturas certas ou erradas, sem culpas e ressentimentos, raivas ou mágoas. Nem sempre as pessoas preenchem nossas expectativas e nos dão o que desejamos. Aliás, na maioria das vezes, nos relacionamos de acordo com o que temos condições de dar aos outros e a nós mesmos, naquele determinado momento de suas vidas em que esses encontros ocorrem.

A meu ver, encontros cativantes e gratificantes reúnem a postura honesta, simples e humilde, para reconhecer e bem lidar com as auto-limitações, para expressar com espontaneidade e alegria o que vai na própria alma, para adotar atitude aberta e receptiva necessárias a um diálogo responsável. Isso tudo implica em aceitar o outro em suas diferenças, e em respeitar o momento certo para aproximações, a hora certa para contatos aconchegantes, a palavra certa para expressar o que vai no coração - não só o que permeia nossa mente racional em seu julgamento crítico sobre adequações ou não.


Pais e Filhos - Affonso Romano de Sant'Anna

"Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridente alegria e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.

Um dia sentam-se perto de você no terraço, e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você não percebeu?

Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços... e o primeiro uniforme do Maternal?

A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça! Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração: incomodas mochilas da moda nos ombros. Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros, que esperamos que não repitam.

Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos. Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas. Passou o tempo do balé, do inglês, da natação e do judô. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, posteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não os levamos suficientemente ao Play Center, ao Shopping, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra, ou iam a casa de praia, entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos. Sim, havia brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.

Os pais foram ficando exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes". Chega o momento em que só resta ficar, de longe, torcendo e rezando muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar), para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível.

O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos, e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.

Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser pais depois que somos avós..."


E aí o que acharam?
O texto, a meu ver, atinge gerações ascendentes e descendentes também. Mobiliza saudades e esperanças. Indica que sempre há tempo para corrigir metas, se as circunstâncias da vida assim o permitirem... e elas sempre permitem mudanças e nos confrontam com nossa liberdade de optar por uma "boa vida", sempre colocando obstáculos, é claro, para que sejam superados causando a separação natural entre "o joio e o trigo na raça humana".

Ele me foi entregue por uma filha esfuziante com o envio por parte de seu pai, não só a ela, mas a suas irmãs. Sua tristeza se concentrou em como encontros que, com a maturação dos envolvidos poderiam redundar em encaixes perfeitos e  boas construções familiares, resultam, muitas vezes, em desencontros vivenciais imprevisíveis e implosões impactantes destruidoras de estruturas familiares.

E eu... a pensar na vida e em seu campo de oportunidades de escolhas, pleno de possibilidades e cheio de probabilidades sempre à nossa frente; a pensar em no livre-arbítrio para tomadas de decisões responsáveis, que permitem mexer "até certo ponto" nas circunstâncias que a vida nos oferece; a refletir sobre a paciente resignação necessária para conviver do "melhor modo possível" com as mudanças nos rumos da vida idealizada por nós.

Novo embaralhar de cartas, ou remexer de dados; novos inícios aproveitando os aprendizados do que foi e não tem retornos, nem dentro de nós pois mudamos muito nesse caminhar dos anos. Ainda bem que podemos constatar, em nosso "agora", a dignidade das ações que propiciaram evoluções internas e não involuções existenciais no ciclo da vida! De filhos a pais, de netos a avós ... o importante é ir surfando sobre as ondas do viver, e curtindo as passagens do tempo com orgulho por nossas vidas bem vividas!

Aurora gite

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