terça-feira, 4 de março de 2014

Papel da Psicologia no novo milênio

Que pena que não tenha tido espaço para escuta por parte de meus pares - em sua maioria freudianos, lacanianos e voltados à teoria dos campos - no grande complexo hospitalar, do qual fiz parte por longos anos! Quantas pesquisas poderiam ter sido realizadas, se não tivesse havido a fixação na preservação da Psicanálise tal qual Freud a delineou em teoria e técnica, e o enquadramento de supervisões e pesquisas sob o prisma psicanalítico dentro de variações respeitando as correntes psicanalíticas mencionadas acima. Na época, minha bagagem psicanalítica, em nada ortodoxa, se voltava mais para as ideias kleinianas. 

No entanto, já era conhecida minha disponibilidade para a compreensão de novas visões psicoterápicas, cujos resultados positivos evidenciassem sua eficiência. Destaco que paga-se um preço alto "entre os pares" por assumir como profissional - e defender - essa postura eclética, que acredito ser indispensável nos dias de hoje (século 21). Confesso que senti um pouco 'na carne' os efeitos maléficos, e ainda conservo as marcas em minha alma, da rede de intrigas que envolve os que resolvem se bancar preservando a dignidade de sua singularidade - como  Melanie Klein, citada abaixo. 

Após a morte de Freud, em 1939, as ideias de Melanie Klein foram questionadas, passando ela a "ser vítima de maldade destilada de boatos aceitos como fatos... estando em jogo o poder e a futura organização da Sociedade Psicanalítica... ao lado de questões centrais sobre a difusão e a transmissão da psicanálise".(Colao, Magda M., na Jornada Psicanalítica: 02.06.2011, Porto Alegre). 

Vale fazer constar, também citação de Colao, que o biógrafo de Melanie Klein, Phyllis Grosskurth, ao iniciar sua obra: 'O mundo e a obra de Melanie Klein' (p.7.), escreve sobre as primeiras palavras que Klein ouviu Freud pronunciar: 
 "Nunca nos vangloriamos de possuir um saber  e uma capacidade definitivos e completos. Estamos tão dispostos agora, quanto estávamos antes, a reconhecer as falhas de nosso conhecimento, a aprender coisas novas e a modificar nossos métodos de qualquer forma que possa aperfeiçoá-los." 
 (Sigmund Freud, Linhas de Desenvolvimento em Terapia Psicanalítica, 1919

Por outro lado, realço que "o novo já nasce velho quando setores arcáicos permanecem no poder" defendendo teorias inquestionáveis sobre o ser humano, esquecendo que outras visões, sobre os dinamismos que cercam a condição humana, podem surgir graças a novas tecnologias imagéticas e recentes descobertas sobre as mobilizações da energia psíquica. Não há mais como não adotarmos visões teóricas mais ecléticas, escolhendo, em nossas práticas clínicas, técnicas e instrumentações que mais se adequem à demanda, e ao momento de vida, de quem nos procura.
Uma era com tantas e tão rápidas transformações nas relações, como essa advinda com esse milênio, nos obriga, como profissionais da área de saúde mental, a estarmos sempre abertos a reciclagens teóricas e a atualizarmos nossas posições na prática clínica, ao nos confrontarmos com a eficiência e eficácia dos novos conhecimentos aplicados sobre a mente humana. É fácil observamos a evidência de seus efeitos positivos na conquista de maior autoconhecimento, liberdade na tomada de decisões mais conscientes, responsabilidade constante nas ações voltadas à defesa e manutenção de uma vida mais qualificada, contribuindo para um indivíduo e uma sociedade mais harmônica e feliz.
Republico a postagem abaixo, pois acredito ser importante, no momento, agregar à minha pesquisa a Física Dra. Danah Zohar e sua visão revolucionária da natureza humana e da consciência baseada na nova física, buscando somar seus conhecimentos à minha hipótese sobre ter sido Freud o primeiro a observar os efeitos quânticos e intervir no inconsciente, que, a meu ver, corresponde a operações psíquicas dentro do "caleidoscópio inteligente" de nossa energia "quanta".

Sobre o papel da Psicologia no novo milênio

União da Psicologia e Física Quântica: Novas leituras.

Algumas considerações de Danah Zohar, física e filósofa -casada com o psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Ian Marshall - retirados de seu livro “O Ser Quântico" (já citado em posts anteriores de 2008)

“Uma psicologia da pessoa, baseada na natureza quântica do ser, enfatiza todos os relacionamentos e assenta o indivíduo, em virtude de sua própria natureza, no mundo do ser. Para tal indivíduo, cujo compromisso com os outros, com a natureza ou com valores espirituais está na essência de sua existência, não poderá haver uma base para distúrbios narcisistas de solidão, vazio, alienação ou envolvimento consigo mesmo...Estar envolvida consigo mesma é, pela própria natureza do ser, estar envolvida com os outros".

"Numa psicologia quântica, não há pessoas isoladas. Existem indivíduos, que possuem identidade, significado e propósito, mas, como as partículas, cada um é uma breve manifestação de uma particularidade. Essa particularidade está em correlação não local com todas as outras particularidades e, em certo grau, entrelaçada a elas".

"Apenas responsabilidade dá significado e valor a nossa existência. Mas em que medida podemos fazer face a ela? Se uma psicologia do compromisso e da responsabilidade quiser ter algum valor em si mesma, deverá levantar a questão da liberdade humana, a questão do grau em que qualquer um de nós é livre para se comprometer como quiser, ou assumir a responsabilidade que é nossa por natureza. Portanto, uma psicologia quântica dever adotar alguma posição quanto à realidade e eficácia da escolha".

"Estou convicta de que temos hoje na física quântica os fundamentos de uma física sobre a qual podemos basear nossa ciência e nossa psicologia, e que através de uma comunhão da física e da psicologia também poderemos viver num Universo conciliado, um Universo em que nós e a nossa cultura seremos plena e significativamente parte do esquema das coisas".


Zohar, Danah.O Ser Quântico: uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência baseada na nova física. 17ª edição. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008.
“ Uma obra sobre a vitalidade da nova física e seu poder de combater a alienação e a fragmentação da vida moderna, substituindo-as por um modelo de realidade em que o próprio universo possui uma consciência – e a humanidade é somente uma de suas muitas expressões.”
Aurora Gite

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