segunda-feira, 24 de março de 2014

Responsabilidade sobre a identidade no meio da atopia e acronia

"Uma identidade no meio da atopia e acronia", ou como atualizo,  "Responsabilidade sobre a identidade no meio da atopia e acronia"


Confiram porque republico! 
Verifiquem se não é uma leitura pertinente, que produz reflexões incisivas sobre a responsabilidade que temos nas escolhas, que recaem sobre o aqui e agora de nossas experiências. 

Somos, nesse momento, "livres no que diz respeito às tomadas de decisões", que interferem diretamente sobre o lugar ideal em que optamos por nos posicionar em nosso viver, e sobre a herança que almejamos deixar como legado público, patrimônio que decorre da construção de valores de nossa história pessoal, inseridos no quebra-cabeça da sociedade que vivenciamos. Porém não me parece que tenha havido época em que a liberdade tenha incomodado tanto o ser humano.

São muitas as opções de escolha em meio ao mundo de incertezas em que temos que mergulhar, visto terem se dissolvidos grande parte de nossos referenciais tradicionais ou de autoridades responsáveis por nossa segurança. Temos que bancar quem somos, escravos de nossas imperfeições e nossos medos, e lutar por fortalecermos nosso mundo mental para obter maior equilíbrio entre um controle emocional sobre nossos afetos, e disciplina-bom senso-temperança sobre nossas escolhas racionais.

Republico, atualizando esse post e agregando essa indicação:
http://www.cpflcultura.com.br/ "As Novas Fronteiras da Subjetivação", palestra do psiquiatra e doutor em Medicina Social, Benilton Bezerra Jr, parte do módulo sob sua coordenação intitulado "Os Efeitos Psicológicos da Crise"
ou www.youtu.be/AwOlzQ7OiwE via@YouTube
ou via google - nome da palestra - entra no youtube e é só selecionar

Tenho me detido a rever atentamente essa palestra. Assisti a esse longo vídeo (por volta de 2 horas de duração) mais de uma vez. E, a cada vez, novas perspectivas me são abertas pelas análises de Benilton, demandando novas articulações de minha parte e profundas reflexões. A sensação de "quero +", em seu término, me indica que tenho que agregar "coragem e audácia", para mobilizar meu psíquico e articular meus pensamentos, adotando postura disponível a seguir o raciocínio analítico de Benilton sobre o social que nos confronta. 

Confesso que fui atrás de mais dados sobre o "homem grávido Thomas Beatie". Fato real de um transexual (linda mulher, miss Havaí, que opta por se transformar em homem cirurgicamente, faz masectomia, mas se recusa a tirar o útero, pois quer "engravidar" e ser pai) - leiam a história real e vejam a foto de Beatie grávido, pesquisando no Google. Acredito que esse caso, em particular, exemplifique os paradoxos referenciais que tenhamos que lidar a partir de toda liberdade conquistada.

Acredito que a 2ª parte da palestra de Benilton, espaço dedicado aos debates com a platéia, apresentem outros questionamentos a respeito desse caso, com novos pontos de vista que nos levam a refletir e indagar: Por que um transgressor de tradições, que opta por uma vida cheia de aberrações, tende a querer formar uma família após esse longo percurso (Beatie se casa, a esposa toma hormônios e amamenta seu filho etc...)? Aonde estará nos conduzindo nossa sociedade em meio a toda essa anomia individualista e narcísica?

Aí foco novamente sobre a "Responsabilidade sobre a Identidade no meio da Atopia e Acronia" e direciono vocês a confrontarem dois testemunhos de figuras públicas, dois exemplos de posturas de vida que decidiram por caminhos bem diferentes um do outro. Não sei com qual vocês vão se identificar mais.

Uma Identidade no meio da Atopia e Acronia, post datado de 07 de dezembro de 2011, continha o que se segue: 

Primeiro duas indicações se fazem necessárias, uma entrevista e uma palestra, mobilizando grandes reflexões sobre o mundo atual e sobre nosso papel neste social virtual:
1- http:// www.tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/fernando-henrique-cardoso lançando também seu novo livro "A Soma e o Resto: um olhar sobre a vida aos 80 anos".
2- http:// http://www.cpflcultura.com.br/ "Espaço, Tempo e Mundo Virtual" palestra de Marilena Chauí realizada em Campinas em 02.09.2010 e reprisada em 29.11.2011.

Confesso que ainda estou muito apreensiva com as atribuições humanas outorgadas a essa nova categoria de seres, com os quais vamos ter que conviver: os robôs. Dessa vez, não me refiro a massa humana robotizada, não! Eu me refiro a essas máquinas, cuja tecnologia formata, cada vez mais, à imagem humana. Acredito que a gravidade desse confronto ainda não foi abarcada.

É grande o poder que o homem entrega para as novas tecnologias em prol do progresso. Inquieta, me questiono a que se refere tal progresso, já que a humanidade perde cada vez mais sua dignidade e autorrespeito, e ganha em desesperança e violência, facilmente observadas em nosso quadro social globalizado.

Os homens, a cada dia, mais se desvalorizam e se sentem impotentes frente à máquina pensante computadorizada, cujo valor de entrecruzar dados e raciocinar globalmente é inegável. O pior, a meu ver, é que todo esse processo se dá de maneira racional e voluntária. O mais surpreendente é que os homens não são forçados a se colocarem dependentes de máquinas para tudo. O mais espantoso é que desaprendem habilidades tão simples que envolvem um prazer tão corriqueiro. O espaço da imaginação criativa cede para a inércia destrutiva da condição humana saudável - física, psíquica e espiritualmente.

Ah! Gandhi e seu tear, em sua sabedoria e abertura de espaço interno para reflexões e cultivo de valores pacíficos de convivência...
Coador de pano e espremedor manual de laranjas para a refeição da manhã? Que mundo é esse se contrapondo ao mínimo esforço de realizar as mesmas tarefas com cafeteiras e espremedores elétricos cujo "único" problema vai advir com a falta de eletricidade? Aliás, se vier a faltar, a maioria da nova geração (e muitos da velha) fica perdida, e apela para a padaria da esquina.

Pensar na vida, se questionar sobre o futuro, se inquietar com conceitos abstratos como justiça, verdade, transparência, honestidade, dignidade, ética, humildade, gratidão? Que valor tem esse blá-blá-blá no mundo atual sem quadros referenciais que possam servir de apoio, que possam se constituir em pilares para um amadurecimento psíquico necessário para assumir os "nãos" na colocação dos limites pessoais, para um fortalecimento interno contra a raiva das frustrações, para um crescimento e valorização individuais que impulsiona ao "basta", para se afastar e lutar por deixar de ser peça de engrenagem nesse social contemporâneo desumanizante e robotizado.

Homens se desumanizam, embotam seu sentir e desativam seu pensar ... robôs se humanizam, "aprendem a ter emoções", a reagir a elas adequadamente, a sorrir, a falar, a abraçar, a pensar, a articular pensamentos buscando soluções inteligentes, a realizar atividades de forma independente. Uau!

Como o exército de homens, atualmente sem valores humanos referenciais, enfraquecidos em sua auto-estima, inferiorizados em suas competências, incapacitados para viver fazendo parte de equipes, irá, algum dia, enfrentar esses monstros, que se agigantam com feições de anjo e estruturas metálicas recobertas - desenhadas para se aproximar mais e mais da imagem humana com qual finalidade a não ser narcísica? - e aos quais a tecnologia instrumenta, atualmente, até para serem violentos na defesa de suas autonomias e autoprogramações para se tornarem mais humanos?

As análises de Chauí a colocaram numa posição de excluída desse social sem a força referencial das tradições, não encontrando espaço ou tempo para manifestar sua identidade já formada e assumida. Suas considerações sobre a atopia e acronia advindas com o mundo virtual, através do qual se constata a dissolução das distâncias relacionais e do embaralhamento do tempo presente-passado e futuro - tudo se resume na proximidade do outro num "agora" virtual - a levam a assumir sua impotência pessoal para se colocar nesse mundo. Coloca sua curiosidade para acompanhar e ver a maneira através da qual a nova geração vai enfrentar o novo mundo que a espera.

Como o ser humano vai despontar a partir desse "agora - não real" ? A que valores condicionará o seu existir? Essa inquietude também me contamina e angustia.

"Não real", pois não se observa a existência dos limites perceptíveis do humano. Portanto, sem as características dos cinco sentidos e até da capacidade intuitiva, que envolvem a percepção humana, a nova geração vai demandar da criação de novos referenciais e novos paradigmas na invenção de uma identidade humana, que a faculte sobreviver no mundo contemporâneo, e nele construir sua história de vida. Em outras palavras, que a possibilite colocar sua essência na forma de seu existir nesse mundo, obtendo uma qualidade de vida satisfatória e prazerosa.

Vale assistir ao vídeo da palestra de Chauí e estar atento a sua citação inicial e devidas considerações sobre a "fenomenologia da percepção", título também da obra do pensador Merleau-Ponty, que tão bem analisou a fenomenologia existencial que envolve o homem e o social.

Por outro lado, Fernando Henrique Cardoso serve de um excelente contraponto a essa posição de expectadora dentro de uma perspectiva passiva , e se coloca como o pensador atuante que, mesmo com seus 80 anos, não abandona a postura empreendedora e busca continuar a construir a história de sua vida com orgulho e dignidade, inclusive numa participação ativa em prol de um social melhor.

Fica visível na entrevista (link acima citado) sua função pública e o peso de seu papel como político. Vale rever e analisar como se faz a própria história de vida, e como essa escrita independe até da idade cronológica com suas limitações naturais.

Da postura de Fernando Henrique Cardoso retiro como mensagem: "Não vai ser fácil a inclusão no social virtual. Cabe a cada um abrir seu espaço: não sem antes encontrar a si mesmo na utopia e acronia virtuais". Nesse sentido, dou ênfase às suas colocações sobre o papel das redes sociais em sua vida, já dimensionada em sua plenitude e dignidade.

Vale assistir ao vídeo dessa entrevista. Depois reflita sobre como ela repercutiu dentro de você.

Ah! Não deixe de comparar os dois conteúdos, que se complementam em muitos aspectos.
 Estou curiosa para saber sua opção de como pretende colocar seu existir, no mundo virtual atual.

Aurora Gite

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