quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Um breve encontro inesquecível

De repente, quando menos esperamos, um encontrão nos deixa profunda marca por essa interação nos ter propiciado um crescimento a mais como ser humano. Uma surpresa afetuosa que, pela qualidade do vínculo, embora passageiro, nos torna feliz pela simples recordação.

Perto da passagem de ano, 2009 se despedindo e 2010 já anunciando sua chegada - o que deve ocorrer dentro de uns 90 minutos - não posso deixar de agradecer o empréstimo do livro "Assim Falou Zaratustra", pelo qual fui apresentada a Nietzsche. Embora já conhecesse sua história de vida e o papel que desempenhou, nunca tinha me aproximado tanto dele, como nesse final de 2008.

Estarrecida, quanto mais lia - leitura difícil pela complexidade da linguagem empregada - mais me sentia seduzida pelo autor, pelo homem, pela angústia do ser só, incompreendido na época (e acredito por muitos até hoje), que reconhece sua grandeza, ao mesmo tempo que tem consciência do grau evolutivo da sociedade, que impede a compreensão do que tenta transmitir, fatores que, mais ainda o enclausuram, pela injustiça que lhe cometem, e o isolam em suas idéias superiores e transformadoras. No entanto, são elas que mobilizam o despertar de um novo ser e a vontade de viver livre e feliz, no caso de Nietzsche, até que a doença o consumisse.

Só ontem, final de 2009, um ano após o encontro citado anteriormente, caiu-me às mãos "Humano Demasiado Humano", grandiosa obra desse autor, escrita na passagem de 1876 para 1877, ano em que completaria 33 anos. Foi publicada em l878. Tentei vislumbrar a época e o local da Europa, seduzida pelo corajoso confronto que manteve por anos. Permiti-me permanecer a seu lado longas horas, numa leitura sôfrega, acompanhando seus pensamentos e seus sentimentos.

A entrada dolorosa dentro de si mesmo é visível, bem como seu processo libertador; a observação do trilhar único para cada um, e o narrar sobre esse caminho, permite identificar a veracidade da experiência, semelhante a muitos seres humanos. Persiste a primeira impressão que tive sobre a pessoa Nietzsche ao ter contato com seus escritos, e isso muito me gratifica.

O enigma da liberação envolve a passagem solitária pelo deserto interno, que propicia o encontro consigo mesmo após o sofrimento da quebra das ilusões e desmistificação dos falsos valores impostos. Caminho sofrido por nos remeter ao depressivo "nada", a uma sofrida "negação da vida", se não ousarmos, com coragem, nos erguer e observar, com humildade e encantamento, o ser humano que podemos nos tornar.

Hoje, último dia do ano 2009, entrei em contato com "Aurora", outra obra sua. Aceitando o convite do autor para passar o reveillon em sua companhia, degusto com prazer o alimento para minha alma, advindo de seu saber. Ao mesmo tempo me valorizo por meu trilhar rumo à conquista do "espírito livre".

Segundo Nietzsche, a missão do homem superior é "tomar o corpo e vir ao mundo", é " tornar-te senhor de ti, senhor de tuas próprias virtudes". Não há "realidades eternas", nem "verdades absolutas". Urge reconhecer o poder do ser humano consciente, e interromper os elos que o prendem a uma tradição obsoleta, a uma hierarquia religiosa autoritária e imposta, a uma moralidade corrompida a submeter os seres inferiores, como Nietzsche denomina os que não se utilizam da razão para discernir e lutar contra tudo o que possa bloquear sua evolução humana espiritual. Sua revolta era voltada tanto aos ardilosos, quanto aos que se permitiam servi-los sem pensar e lutar como homens, ocupando seu verdadeiro lugar no "mundo dos Homens".

É difícil descrever com palavras a sensação agradável de uma interação humana sintônica, onde afinidades fluem, onde compreensões sobre o outro, suas idéias e vivências afloram. São esses contatos que substituem a sensação de estranheza. A semelhança de ideais e lutas permite a inserção numa sociedade de iguais que respeitem as diferenças individuais. A esperança humilde da eclosão de um mundo melhor, onde as virtudes - que são forças energéticas superiores - e os valores éticos imperem nas convivências humanas, não é uma utopia tão distante assim.

Esperando despertar a curiosidade para futura leitura da obra, vou me permitir transcrever algumas frases retiradas do Prefácio, considerações de Ciro Mioranza sobre "Aurora" (vale a pena ler esse livro, não tão complexo quanto o citado anteriormente, mas igualmente de enorme profundidade, e resgatar seu autor para a humanidade):

"Aurora anuncia um novo dia, um novo despertar para uma verdadeira vida - do homem e da humanidade inteira... Aurora significa o despertar de um nova moralidade. É a emancipação da razão diante da moral... Aurora quer romper essa maneira tradicional de agir e de avaliar. Portanto, à medida que o sentido da causalidade aumenta, diminui a extensão do domínio da moralidade... Aurora se configura na história da individualidade num contexto social. Um novo ser se desenha. Uma nova forma de pensar, de agir e de se comportar. Um novo ideal diante de si e diante do outro, um novo ideal de cada um diante da sociedade. Um novo tempo. Uma nova vida. É tudo o que o homem quer. Ser e ser ele próprio."

São 23:40 horas desse dia 31 de dezembro de 2009... Mais alguns minutos e novas esperanças despontam ao som dos fogos e luzes coloridas que explodem nos céus dos países, unificando continentes e nações.

Será que não poderíamos em 2010 refletir, com liberdade espiritual e intelectual, sobre nossas vivências e experiências, e partir em busca da serenidade interna, que nos permite observar a beleza da vida e estabelecer convivências pacíficas e trocas interacionais enriquecedoras?

Aurora Gite

PS: Cada vez que me aprofundo na leitura de Nietzsche, agradeço os quase 10 anos de experiência com pacientes oncológicos, e posteriormente com pacientes portadores de dor crônica, em diversos quadros patológicos, orgânicos e psicológicos.

Como é fácil se criar um mundo falacioso por observações psicológicas superficiais - como bem coloca Nietzsche em seu "Humano Demasiado Humano" (p.64/66) - unido ao fortalecimento de crenças religiosas e mitológicas errôneas sobre o amor e posturas não-egoístas, e à manutenção de uma pretensa moralidade dos costumes, que estabelece padrões uniformizados de boas e más condutas, a serem seguidos, para sustentar uma sociedade culturalmente massificada, não pensante e oprimida, desrespeitosamente, em sua unicidade diferenciada de ser humano.

Ganha contornos científicos mais nítidos meu desenho onde:

- O campo da Física Newtoniana, da Química e da Medicina é o da matéria orgânica e visível.

- A matéria quântica e invisível pertence ao campo da Física Quântica, da Medicina Vibracional e da Psicologia.

- E por que não da Metafísica, ao incluirmos a importância da energia proveniente dos verdadeiros sentimentos morais - parte superior da pirâmide interna a ser atingida pelo "Ser Humano Demasiado Humano"?

- Lembra do blog "Quer receber um presente meu?", de 2008 ?

- Feliz Mundo Novo!

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