terça-feira, 8 de abril de 2014

Por que é tão difícil ver +além das meras aparências?

Por que é tão difícil ver + além das meras aparências? Essa inquietude me faz recordar do filme Patch Adams. Como não deixar de associar com a sábia lição de vida contida na frase, cuja profundidade talvez tenha escapado a alguns: "Veja além dos dedos de minha mão (aqui na frente de seus olhos)"? Em muitas ocasiões, durante o filme, essa aprendizagem foi útil a Patch, particularmente para se afastar mentalmente se protegendo dos impulsos negativos de ódio e raiva, sem se envolver emocionalmente em momentos de discórdia e agressividade, competição e inveja... Lembro de ter me indagado como seria útil nos encontros com pessoas especiais, para soltar livremente, dando asas à imaginação, impulsos de alegria e energia (por que não, não é uma troca de energia?) na expansão do "cuidar do próprio amar" através da plena entrega ao outro.

Como esse questionamento me tem sido recorrente ante alguns tweets, achei pertinente reler essa postagem. Senti o mesmo tripé me mobilizando: impactante, intrigante, instigante. Pena grande parte das pessoas ainda estarem tão voltadas ao apego aos fugazes prazeres sexuais físicos, e não terem se aproximado do tesão propiciado pelo agregar capacidades de nossas outras faculdades, como a de imaginar e de brincar. James coloca bem o indescritível da sensação do lúdico na relação a dois, onde dois corpos e duas mentes, dispostos a curtir o encontro, permitem se soltar nesse contato, sem cobranças ou exigências, sem preocupação com desempenhos e resultados, simplesmente se permitindo "ser" e "se sentir alegre" se entregando a seu desejo de "ser livre e feliz" a dois - na "cumplicidade, lealdade e simplicidade", que podem ser outorgadas a esses momentos, singelos quando sinceros, preservados da malícia invejosa e maledicência preconceituosa.

Os comentários abaixo me remeteram a sensações, que ainda permanecem vivas dentro de mim, e atenta às reações que me provocam, percebo que persistem muito estimulantes, como não!

" Encerro a leitura da trilogia 'Cinquenta Tons' de E.L.James e me ponho a digerir sobre o que ficou dentro de mim.

Começo por três pontos, a meu ver, básicos:

Primeiro, dou ênfase à qualidade da publicação da editora Intrínseca e à escolha das capas, não só pelas imagens, mas pela textura das mesmas.

Segundo, realço o estilo de escrever de James com sua objetividade, frases curtas, indo direto ao que quer transmitir, sem a necessidade que o leitor tenha muitas elucubrações e interrogações do tipo "o que será que o autor quis dizer com isso?". Acredito que, além do conteúdo instigante, essa forma sucinta e direta, tenha atraído tantos leitores "internautas do mundo atual", que se dispuseram a comprar seus livros e a seguir avidamente suas idéias, bem articuladas dentro do que a autora se propôs.

Terceiro, leitores em busca de pornografia, podem ter se deparado com muitas lições de como atuar sexualmente, ante descrições tão detalhadas e ricas sobre a relação sexual entre duas pessoas "afins uma da outra", que se perceberam com uma química semelhante, com seus corpos respondendo a estimulações específicas de forma idêntica - sintonia que aumentou a atração entre eles - e com suas mentes se permitindo  se embalarem no aumento de prazer, pela excitação advinda da atuação da faculdade de imaginar, fervilhante de inovações consensuais impeditivas a que o tédio da mesmice contamine o tesão que  apimenta a relação; digo melhor, que poderia apimentar o tesão de qualquer relação humana nesse sentido.

Agora chego ao que me causou grande surpresa: Quanta coisa sobre o "amor" , para os que se dispuserem a ver +além das meras aparências!

"Data venia" aos que tenham opinião contrária, chamou minha atenção, logo no início da leitura da trilogia, a autora usar a expressão "fazer amor" em vez de fazer sexo. No sexual temos o êxtase do prazer orgástico, explosão de energias através da entrega a uma união de corpos que se abre ao estímulo de áreas eróticas e à excitação pela fricção das mesmas. No "fazer amor" temos a entrega ao prazer de duas almas afins, o "sentir", em breves momentos, o clímax (apogeu) de energias em campo que irradia paz, aconchego, amor.

Refletindo sobre a repercussão e o estouro nas vendas da trilogia "Cinquenta Tons", mais me convenço sobre a pobreza da fantasia no erotismo atual. Ao ler não se sobressaiu o encontro sadomasoquista e a relação de prazer ante dores físicas e/ou psíquicas, mas o consenso e a curtição de um casal no encontro de jogos eróticos, que liberam a sintonia da excitação de suas libidos. Inclusive, quem se dispôs a ler e confrontar a obra com tantas críticas cruéis, deve ter notado que entre o casal existia um código: o uso da palavra "vermelho", indicava o 'Pare!', simbolizando, naquele momento, a interrupção de como chamavam de seu "desafio de limites". Meu foco recaiu na preocupação de um com o bem-estar do outro, na enorme vontade de agradar e preservar, no afetuoso e raro cuidar das respectivas integridades psíquicas.

Notem como a autora articulou suas idéias, sempre mobilizando o interesse para o "quero saber mais" e a curiosidade no "e agora, o que vem?" , dentro de situações banais que poderiam ocorrer com qualquer um, e sob uma abordagem bem passo a passo da relação sequencial das cenas, que levam a seguir seu pensamento e o desenrolar das ações dos protagonistas.

Analisem o "subjugar": não implica em causar sofrimento, mas aumentar o prazer da entrega, após o jogo da resistência e controle das reações imediatistas, impulsivas. Verifiquem a "função da submissão" onde o aumento do tesão vem do tentar se esquivar, sem impedir a ação restritiva do outro, mas encorajando-a. É incrível como os casais menosprezam suas capacidades de imaginar e fantasiar, apimentando a vida sexual, e  se permitem cair no marasmo tedioso da mesmice.

A expressiva vendagem dos livros ("pornografias para mamães?", subtítulo que receberam) e o interesse de tantos jovens, podem sugerir a possibilidade de maior união da "sensualidade" à "sexualidade", ou seja, que a mera satisfação dos instintos sexuais se acopla à grandeza das descobertas dos prazeres sensuais, pela entrega gradual aos estímulos sensoriais: aumento da percepção sobre as sensações físicas. O que me parece um bom sinal para impedir a alienação do mundo da ilusão,  com suas criações em que impera a falácia fantasiosa sobre as sensações reais.

Termino a leitura e me recordo que a autora se permitiu "criar", concretizar suas idéias, sob o som da música clássica, fato que também atraiu minha atenção. Minhas pesquisas sobre os dinamismos energéticos de nossa energia psíquica, os associando a processos bio-quânticos (bio-eletromagnéticos) estavam sendo direcionadas para os efeitos internos da acústica dos sons: de um som lírico e suave (mais atrativo à nossa alma) e sua diferenciação com um rock da pesada ( mais estimulante a movimentos corporais). Começo a ler de Otto Maria Carpeaux, "O Livro de Ouro da História da Música", onde o autor "traça a história da música erudita através de sete séculos.

Ao fechar "Cinquenta Tons de Liberdade" e me por a pensar sobre o trajeto dos personagens, vejo delineado o caminho por onde a autora impulsiona seus personagens a percorrer, que pode ser experienciado por duas pessoas viventes quaisquer. No possibilitar essa identificação também reside parte do sucesso da obra.

Mentalmente faço um retrospecto das articulações das idéias de James, que me levaram a refletir sobre:

* "a arte de amar", ou o respeito pelo cuidar das diferenças individuais e o encontro do prazer no ser diferente do outro e crescer nessa relação, preservando as individualidades;

* "a arte de fantasiar em consenso" como fator enriquecedor da relação;

* "a arte de criar expectativas", ou saber aguçar o prazer da espera de algo imprevisível e fora de controle;

* "a arte da entrega", ou o de se capacitar para o relaxar necessário a que a mesma ocorra com prazer;

* "a arte de confiar", de confiar no próprio taco para manter a relação e na capacidade do outro para lidar com adversidades circunstanciais do cotidiano, ambos preservando a relação para que não se contamine.

Essas reflexões me levam a recordar como algumas pessoas - como os personagens de James - ao se encontrarem circunstancialmente têm algum tipo de conexão energética ativada. É um reconhecimento inexplicável : "Não me pergunte o porquê, mas sinto nele a dignidade do diamante; se algum dia o souber 'solitário' e 'só'. vou estar por perto"; contrapondo a um " Ou ela é muito boa, ou muito..." já permitindo antever suas ansiedades antecipatórias, seus "cinquenta tons" a serem acolhidos.

Aqui já tirei da prateleira os "Diálogos de Platão" : "Banquete" ( com todo seu louvor ao amor) e "Fedro" (que prolonga o Banquete e vai +além) . Li o "Banquete" em 1976. Só de folhear percebo sua importância pessoal, por me permitir observar meu caminhar em relação ao fenômeno amoroso. Mas, de repente, em Fedro, do "mito do carro alado, no qual o cocheiro é a razão e os corcéis, a vontade e a concupiscência", me surge a percepção de que ansiedades antecipatórias em suas roupagens de medos do porvir, não só serão afastadas pela oposição ao que é no presente e pelo reforço ao confiar na própria capacidade de atuar sobre circunstâncias "conforme forem se concretizando no real", mas quando se alçar a categoria do cocheiro: da "razão" para a da "sabedoria".

Os mitos dispersos pela obra de Platão me fascinam. Talvez ouse estabelecer um código secreto, para quando se possa, ou se queira, acolher a privacidade de uma relação a dois, e falar 'me too' (eu também)."

Aurora Gite

Minha curiosidade agora volta-se para o próximo lançamento do filme já em produção (2014).

É interessante imaginar as ideias da autora, que me despertaram tantas impressões e geraram tantas imagens a partir delas, serem agora manipuladas pelo diretor do filme. Sem dúvida, os recortes de cenas decorreram também das impressões que lhe causaram as ideias de James. E no filme vão estar acrescidas de como foram assimiladas e como serão expressas pela atuação dramática dos atores. Como esquecer que as características de suas personalidades, suas sensibilidades além da experiência profissional é que vão dar vida aos personagens? 

Agora os personagens não são mais da autora do livro, não são mais do diretor do filme, não são mais dos atores que encenam a vida dos personagens... passam a pertencer ao imaginário de quem se dispuser a assistir ao filme, como eu! 

Uau, sou eu, então, que vou conviver com elas e gerenciar o lugar que quero que ocupem no meu imaginário e o seu tempo de permanência?

Como li a trilogia antes e tenho vivas as impressões que me causaram, preparo minha memória para conviver, por um lado, com perdas de lembranças agradáveis, e por outro com os ganhos. Acho fascinante o poder do ser humano para abertura de seu espaço mental e recepção calorosa para novas recordações prazerosas. Desse movimento é que vai depender, também, a qualidade de seu viver.


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