quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Quem vai me censurar? Eu vou!

Recebi esse texto por e-mail. Seu autor preferiu conservar o anonimato.

Sempre me preocupei por este tema, talvez por já ter conhecido meu pai com seus cabelos brancos, por conviver com a vergonha infantil quando amigos riam me dizendo "Olhe lá, seu avô está te chamando!";  por ter convivido, desde sempre, com o medo da perda de seu amor e o susto constante com a eterna ameaça de morte iminente, rompimento dos vínculos afetivos e quebra da estrutura familiar.

Não foi fácil ter a infância envolta pelas limitações da velhice. O cotidiano ficava todo contaminado por raiva e culpa, por ter sido obrigada a acompanhar suas transgressões alimentares e as repercussões imediatas de seu organismo as rejeitando.

Por outro lado, embora o lazer familiar fosse muito restrito, nas poucas vezes que nossas saídas de casa, não se limitavam a visitar parcos parentes, podia expandir meu enorme carinho por quem, bonachão que era, espalhava aconchego ao redor,  e isso ocorria nas poucas vezes em que íamos ao cinema.

Ops, um parêntese! Isso ocorria quando o vício do jogo não o dominava e, como sereia sedutora o fascinava e mobilizava reações irresponsáveis, o afastando de casa, inclusive, por longos e longos dias.

Mas lembro, como se fosse hoje, de meu contentamento, quando segurando sua mão, lá íamos nós para a primeira fila dos cinemas, sem nos atermos muito a suas limitações visuais além do daltonismo congênito e ao incômodo para mim e para meu pescoço de estar ali, toda torta buscando ver as cenas do filme, mas em sua companhia, já que minha mãe e meu irmão sentavam muitas fileiras atrás.

Bem já deu para perceber que as cicatrizes e a miopia não eram boas parceiras em uma mesa de jogos com profissionais, mas a tentação do vício sempre ganhava das perdas financeiras, que tanto e graves transtornos familiares ocasionavam. Isso sem falar das intermináveis auto-recriminações e cobranças depressivas por responsabilidades não assumidas , culpas e raivas futuras pela vontade ter fraquejado, novamente penalizando toda família ante tal postura.

Ter passado a infância sob esse clima me fez questionar desde pequena porque nos currículos escolares na disciplina de Ética e Cidadania não eram abertas questões a um "saber envelhecer", a uma "educação para a velhice". Por que não existiam dinâmicas de grupo envolvendo a temática "O que é a velhice para você?" que envolvessem reflexões e não só juvenis. Era uma forma mais saudável de inclusão social. De alguma forma, assumi o compromisso comigo mesmo de me tornar autodidata na aprendizagem de saber bem envelhecer, "curtindo" essa época quando chegasse.

Transcrevo o texto, que me suscitou tantas recordações, unindo história de vida é fácil entender porque me afetou tanto:

"Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo...

Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parecia tão "avant garde" no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante. Eu vi amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.

Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogando no computador até as quatro horas da madrugada, dormindo até meio-dia? Ou se dançar ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 e 70? Ou se eu, ao mesmo tempo, desejar chorar por um amor perdido...? Eu vou?

Eu vou andar na praia em um short excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros nos seus "jet set". Eles, também, vão envelhecer.

Eu sei que eu sou, às vezes, esquecido.Mas há mais algumas coisas na vida, que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes. Claro, ao longo dos anos, meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração, quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração, que nunca sofreu, é imaculado e estéril, e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.

Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito de estar errado!

Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser velho. A velhice me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer). E que nossa amizade nunca se separe, porque vem direto do coração!"

Sem dúvida, vou me recordar desse texto no futuro, ao me perguntar ante minhas tomadas de decisões: "Quem vai me censurar?", tendo alegria no coração ao responder: "Eu vou!"

Aurora Gite


Um comentário:

Anônimo disse...

Já vi este texto tantas vezes e assinado por tantas pessoas diferentes a cada vez, que fica difícil saber realmente quem foi o autor.