sábado, 14 de novembro de 2015

No mundo digital e globalizado dica importante é ...

No mundo digital e globalizado uma dica importante é insistir, com garra e determinação, foco e paciência...

Aumentam muito as chances de se obter, se possível, o que muito se quer.

Eis a postagem indicada no tweet:


sábado, 12 de setembro de 2009


Solidão, vontade e liberdade

Uma das maiores dores do ser humano advém da sensação de desamparo e angústia do ser só.

No entanto, esse é o destino psíquico de todos nós, para iniciarmos a escalada de subida visando o fortalecimento de nosso mundo interior. A vivência com essa fragilidade e mesmo vulnerabilidade é que nos mobiliza para o resgate de nossa potência como ser humano.

A percepção que não somos tão limitados e impotentes, por si só, já nos revigora e transmite sensação impactante de alegria e regozijo indescritível, antes não sentidos. Representa a passagem, já abordada por mim, do "eu existo" para o "eu sou", que tende a alcançar o "quero ser e tornar-me eu". É o movimento que Platão bem representou em seu "Mito da Caverna", sendo esta o símbolo de nossa própria existência em nosso mundo interior, como coloca Hannah Arendt (Entre o Passado e o Futuro, 2007).

Gosto de, saindo dos lugares teóricos comuns de muitos psicoterapeutas, analisar meus pacientes sob o prisma do tipo de governo interno que adotam na interação entre os dois mundos (subjetivo e objetivo) , da qualidade de regência de seus recursos psíquicos e do controle sobre a administração das estratégias que utilizam. Quantos não ficariam surpresos ao perceberem a forma tirana e o governo totalitário que adotam no domínio e fiscalização das próprias forças psíquicas. Muitos se revelam verdadeiros déspotas ante o rigor das exigências e autocobranças.

Já localizei em posts anteriores o papel que desempenha Hannah Arendt e minha admiração por suas articulações. É uma pena que não tenha fugido de, como bem provam os dados históricos referentes a muitos pensadores, ter um maior reconhecimento de sua obra e melhor compreensão de suas idéias, após sua morte. Comprovo muitas de suas hipóteses sobre o ser humano por meio dos dados através de observações advindas da área clínica. Expresso um pouco isso no texto abaixo.

Vou focar nesse post três fenômenos humanos constantes e universais, nomeados como: solidão, vontade e liberdade. Três conceitos difíceis de serem analisados racionalmente, pois englobam outras dimensões do ser humano. E, se concebermos o mundo psíquico dentro de uma totalidade sistêmica semelhante ao corpo humano, inclusive com duas vias circulatórias de energia psíquica, podemos observar suas atuações em ambas. Vamos encontrá-las no mundo dos valores (forças) morais, e no mundo das virtudes (princípios inspiradores voltados ao Bem), expressos pelas ações deles decorrentes.

Acredito ser importante pontuar que a virtude não é racionalizada, não pode ser ensinada ou aprendida, seu entendimento decorre de uma compreensão superior, mas tão vital ao organismo psíquico no que diz respeito à integração das dimensões humanas psíquicas mentais com as espirituais. Sob esse termo, me refiro a dimensões mais elevadas, características do ser humano mais amadurecido psíquicamente, mais sereno e livre em suas ações voltadas a momentos de autoaconchego e plenitude interior.

Ao se reportar ao fenômeno da solidão, Arendt considera o "homem solitário não mais um, e sim dois em um", pois, no momento em ocorre a "interrupção entre mim e meu próximo, tem início o relacionamento entre mim e mim mesmo".

Complicado?
Vamos verificar o que torna essa assertiva mais difícil de ser entendida?
Eis alguns obstáculos:

-A maioria das pessoas não aprendeu a pensar, refletir e analisar a aplicabilidade prática do que lê. Buscam enquadrar o outro para validar teorias, lidas superficialmente sem grandes introspecções, sobre seus significados.
-Para muitos, é mais comodo não se individualizar. O se tornar indivíduo demanda empenho, esforço e responsabilidade pelo bem-estar do ser único que se tornou.
-Para alguns, ainda, falta o hábito de entrar em contato com esse lado psíquico, se permitindo acompanhar a dinâmica de forças atuantes, ou o movimento das idéias que se entrelaçam nesse diálogo interno. Para isto é preciso coragem, determinação e perseverança. São viagens em mundos desconhecidos dentro de nós, a meu ver, de grande fascínio, mesmo as sofridas que nos espelham o que não gostaríamos de ter, mas que podemos, a partir daí, optar por não mais ter.
-Não é fácil o confronto com um "quero e não-quero", "quero e não-posso", "sei-mas-não-quero", como bem coloca Arendt. Existe sempre o subterfúgio do "não sei", "acho que", "tento e não consigo", que a tudo mascara, com as pessoas esquecendo que o "autocontrole corresponde à virtude política onde "quero" e "posso" se afinam", e a "coragem é uma das virtudes políticas cardeais, representando o bem supremo para se tornar um indivíduo".

Sempre me questionei muito sobre essa energia psíquica e sua forma de distribuição dentro do ser humano, que, como ocorre dentro de um caleidoscópio, basta ligeira movimentação para que séries de desenhos de funcionamentos psíquicos se delineassem, demandando leituras específicas para seu entendimento.

Para uma melhor compreensão desses fenômenos muito contribuíram tanto a Física Quântica, quanto as propostas de Arendt, sobre a "pluralidade de perspectivas inerentes ao ser humano em sua unicidade" e "articulações que levam as experiências a uma esfera do esplendor que não é a do pensamento conceitual", a observação da imprevisibilidade do efeito da ação humana independente da motivação interna e do princípio causal que rege o mundo exterior.

Parte de um quebra-cabeça era montado dentro de mim, e novas inquietudes surgiam, impulsionando novas indagações e novas buscas investigativas. Sendo o homem soberano para atuar em seu mundo interno, até onde iria essa liberdade? Como atuaria o fenômeno da liberdade tão sonhada e almejada? Vontades genuínas e vontades criadas, como discriminá-las mais prontamente? Como unir, com mais exatidão, a faculdade intuitiva com as capacidades de sentir e pensar, obtendo ações mais coerentes e consistentes, visando melhor qualidade de vida para o ser humano, assim mais autorealizado e autovalorizado? Como possibilitar sua maior integração ao social, ou ao público, preservando sua individualidade?

Hannah Arendt, no livro citado acima, lança a hipótese sobre a possibilidade da liberdade começar onde a política (coisa pública ) termina". Para ela a liberdade, na área da política, é oposta à liberdade no espaço íntimo do sentir-se livre, pois esse espaço pertence ao ser apolítico.. "O homem é livre e aplica a ciência do viver, desde que saiba distinguir entre o mundo estranho, sobre o qual não possui poder, e o eu, do qual ele pode dispor como achar melhor... ser escravo no mundo e ainda assim ser livre."

O fenômeno da liberdade não surge na esfera do pensamento ( das idéias) nem é vivenciado no diálogo consigo mesmo. Resgata as citações de Epicteto: " É na morada interior que o conflito consigo mesmo irrompe e a vontade é vencida, que o homem é senhor absoluto... Livre é aquele que vive (em seu mundo psíquico) como quer... livre dos próprios desejos."

Paradoxal? Nem tanto.
Complexo para se entender? Muito.
Vamos , então, tentar compreender seguindo as associações estabelecidas por ela, e buscando confirmação, observando os movimentos psíquicos que ocorrem dentro de cada um de nós?

Não é fácil para a maioria das pessoas, perceber essa dinâmica interna.
Prefere substituir por movimento, energia, atividade ? Tudo bem.
Lembra do caleidoscópio? Então tente verificar os desenhos, ou imagens mentais, que suas idéias formam ao se associarem.

Muitos, inclusive, não estão nem afim de se aproximar de conceitos abstratos, se prendendo a uma realidade concreta com sua utilidade prática imediata e visível. É tudo questão de perspectiva, de tempo e de escolha.
O encontro com nossa interioridade está marcado, bem como o confronto com o sentido da vida. Em algum momento de sua existência, as pessoas não vão só se questionar sobre os "porquês", mas buscar responder à pergunta: "Para que tudo isso?"

Como essa ação depende de forte vontade interna, eis o fenômeno introduzido neste texto.
Volto a Arendt: "A ação sendo livre, não se encontra nem sob a direção do intelecto, nem debaixo dos ditames da vontade ... Existem motivos e objetivos, mas a ação é livre ao ser capaz de transcendê-los."

E aí, o que é o fenômeno da vontade? O que é a vontade para você?
É uma faculdade humana, onde existe o livre arbítrio, "existe uma liberdade de escolha que arbitra e decide"? É um sentimento que incita alguém a atingir o fim proposto por esta faculdade?
"Para Nietzsche era o impulso fundamental inerente a todos os seres vivos, que se manifesta na aspiração sempre crescente de maior poder de dominação." Para Schopenhauer é o princípio norteador da vida humana. Para ele, "a vontade corresponde à Coisa-em si, ela é o substrato último de toda realidade."
Arendt chama a atenção para outra perspectiva de escolha voluntária, quando impera uma necessidade, estando em jogo a própria vida. Toda vontade, segundo ela, implica em uma vontade de poder que, como nesse caso, se transforma em vontade de opressão, que nos coloca sob o jugo de outrem, de um governo maior que somos obrigados a acatar e nos adequar para sobreviver.
Nosso foco não recai sobre a vontade direcionada por essa exigência, mas sobre a liberdade da vontade, e nesse momento nosso objetivo é uni-la a uma Ética Superior, mais além do bem e do mal, e bem mais além da moral , com seus costumes temporários e suas regras para uma boa convivência. Citando Schopenhauer, a compreensão da Vontade faz aparecer todos os entes desde seu caráter único, o que leva, necessariamente a um sentimento de fraternidade e a uma prática de caridade e compaixão. E assim se expressa ainda: " A máscara do pensamento dissimula a vontade... A suprema felicidade somente pode ser conseguida pela anulação da vontade (querer mundano)". Como diferenciar o que é criado por nosso pensamento do que é a expressão de nossa alma, de nosso ser autêntico e verdadeiro, que habita bem lá dentro de nós?

Refletindo sobre nossas vivências, podemos verificar que "A ação da vontade, sobre nós, tem um prazo de validade, e seu vigor se exaure". No entanto, existe uma área em nosso mundo interno, onde a ação brota de um "princípio inspirador", expresso no ato realizador, que não perde seu vigor nem sua validade, que não se prende a nenhuma pessoa ou grupo em especial. Onde "ser livre" e "agir" são uma mesma coisa. O querer, o tesão sentido, o grau de satisfação alcançado, pertencem a outra dimensão humana. A sensação de leveza e de alegria são de outras grandezas, não nomeadas, e indescritíveis.

Que espaço é esse?
Esse é o nosso espaço interior destinado às virtudes. Você pode ler a palavra e analisar sob o aspecto formal ( letras, sílabas, sons, etc), com também pode verificar seu significado em um dicionário (força moral, valor; disposição firme e constante voltada para o bem), mas pode ir pelo caminho da obtenção de conhecimento por uma autoinvestigação. É estar aberto ao novo. É estar flexível a prováveis mudanças de convicções. É soltar o peso dos preconceitos acumulados, das crenças e conceitos disfuncionais ao seu bem-estar. É se libertar. É sentir-se livre. Como?

Eis uma dica: Já percebeu a leveza que vem ao pensar na frase sem julgamentos prévios: "Fazer o melhor que puder e ser o melhor"? Sinta o conteúdo da mensagem! Verifique se não percebe que "a perfeição está no próprio desempenho e se torna independente da ação", e que "a presença da liberdade é vivenciada em completa solidão". Reconheça dentro de você o espaço onde o homem aproxima sua vontade do conhecimento ético intuitivo , onde ele "sabe" o que é certo e se impede com prazer de fazer o contrário, onde ocorre uma alegre e serena renúncia interna por amor... por amor a si mesmo, como ser humano valorizado e vitorioso na conquista de sua dignidade pessoal.
Lembra de dois posts : "Otimizando recursos em tempo de crises" (outubro/2008) e "Você quer receber um presente meu?" (novembro/2008) ? Fica meu convite para revisitá-los.
Aurora Gite

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