quarta-feira, 17 de abril de 2013

É isso aí Drummond, também pergunto e me questiono : "E agora, José?"

Eis um auto-questionamento, sobre o significado da própria existência e do mundo, válido para cada um de nós.

Confiram como Drummond lida com a existência do "não ser".

Vejam como dentro do Existencialismo existe a categoria construtiva do "nada" : há sempre algo por fazer dentro do existir de um ser humano.

Já visitaram, na Internet, o site Passeiweb? Vale a pena!

Anotem aí:

www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios

Agora é curtir a leitura de "E agora, José", ou simplesmente "José".

Ops! Qualquer semelhança com algum conhecido é mera coincidência, ok?

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?


(Carlos Drummond de Andrade)

Mais uma vez, "curti bastante Drummond", no seu cuidado com a beleza das palavras e com o texto elaborado com arte.

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