quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Os professores e o educar no mundo líquido

Excelente análise do mundo contemporâneo e de suas alterações afetando o educar no mundo atual, encontra-se na palestra do Professor Historiador Leandro Karnal com o título de "Vazio Contemporâneo e Espiritualidade", vídeo disponível no Canal YouTube. Vale assistir ao vídeo e muito refletir. Destaco os elogios que Karnal faz a Zigmunt Bauman e suas articulações ao redor do conceito de mundo líquido, para definir a sociedade em que vivemos hoje.

Acompanho literalmente Karnal em suas análises onde conclui que "Eu fui preparado para um mundo que não existe mais... eu fui criado para um mundo que não existe mais". Constata quantas atividades inúteis guardadas na memória e quantos princípios éticos relegados nesse mundo líquido da tecnologia digital. "Quando aluno, os professores eram autoridades. Hoje, como professor os alunos são as autoridades.Tudo se tornou uma 'questão de opinião', onde se confunde agregação de informação com formação."

Para Karnal, a globalização nos atinge aliada a um "individualismo e concorrência permanente", onde "ninguém ouve ninguém", onde o "eu prevalece". Coloca um diálogo esclarecedor do que afirma: "Tô cansado. - Eu também. Acordei às 6:00 horas. - Eu às 5:00 horas. Tenho filho de 19 anos. - O meu tem 17 anos. Tenho dor de cabeça. - Eu tenho um tumor...e por aí vai... Na comunicação atual não se introduz a preocupação real com o outro. Não há diálogo, onde se introduz a ética e sensibilidade na interação. Tudo é questão de opinião, voltada para o predomínio da autorreferência guiando a vida de relação: "Estou triste porque meu pai faleceu. - Tome um remédio!"  como se a tristeza não fosse a reação à morte de um pai e devesse "ser tratada e mascarada" com medicamentos.

A meu ver, hoje é difícil as pessoas se "engajarem" nas interações. A "entrega", para servir ao outro, envolve um compromisso recíproco de disponibilidades. A atitude de "escutar com atenção" está em falta, mais ainda o "estar continente às angústias do outro". É um se fechar ao sofrimento alheio e se buscar prescrições aliviadoras de angústias que demanda de tempo para serem digeridas internamente. A relação professor-aluno na arte recíproca de educar-aprender ocorre sempre "por amor", fenômeno sobre o qual poucos se entendem atualmente.

Em 1982, deixava registrado que, se algum dia viesse a escrever um livro, "queria meus personagens soltos, livres, não presos a descrições físicas marcantes. Queria meus personagens se destacando por seus atos e atitudes. Poderiam ser você, eu, ou qualquer pessoa que encontre semelhança com o o que representem..."

Continuava eu: "Não gostaria de ver meus personagens fixos em um tempo, época ou lugar. Poderiam existir ontem, hoje ou amanhã. Em cada um o eco da vida ressoaria... Suas vidas não se entrelaçariam, simplesmente se cruzariam. No entanto, um elo os uniria, constituído pela importância do existir de cada um."

Eu reiteraria, através deles, "minha confiança no próprio homem, querendo crer que, ao cair por terra a enorme insegurança que o cerca, por seu esforço pessoal, encontrará o equilíbrio, a harmonia e a paz tão almejados. Voltará a ter fé e esperança na humanidade. Procurará, dentro de si, a sabedoria."

Hoje agrego: "A nós outros cabe abaixar a cabeça, com humildade, e respeitar que compreensões quânticas emerjam, conforme o patamar interno alcançado", para combater a "tirania do momento" citada por Bauman, ao se referir à era do movimento da liquidez, do sempre inovar, do "tempo da pressa", que caracteriza a época atual, onde inteligências são sequestradas pela ideologia do consumo.

Continuo defendendo a hipótese de que a energia psíquica faz parte de nosso sistema quântico, e que Freud foi o primeiro a observá-lo e operacionalizá-lo. A meu ver a paz interna, o salto evolutivo quântico decorrente de alterações de estados energéticos, o alcance de patamares com maior amplitude de consciência demandam uma "entrega" ao, ainda desconhecido, mundo espiritual.

Penso que cada vez mais ocorre a compreensão da importância do "alinhamento de forças energéticas" para se alcançar o estado interno de serenidade decorrente do "equilíbrio na gangorra das reações humanas "biofísicaseletroquímicas" com as sensações mais sutis "biocorporaispsíquicasespirituais", traduzidas por leituras sensitivas de vibrações "atomoeletromagnéticas".

Nesse sentido, discordo de Karnal ante sua generalização depreciativa aos estudam a nova ciência e os dinamismos da energia quântica dos sistemas humanos subatômicos.

Estranho sua afirmação que é "afetado", que "se irrita muito" com a utilização de metáforas como "energia" e "física quântica", que não lhe são significantes. No entanto, ele deixa pistas que me despertaram a curiosidade para assistir a seus vídeos acompanhando a articulação de suas ideias a respeito desses conceitos. Explicitamente, e enfaticamente, relata: "Tudo que não tem explicação entra na categoria de energia quântica... Assisti a quatro aulas no curso sobre Física Quântica, ocorrido no ..., e no final não entendi nada!"

É triste ver professores, não colocando dúvidas e acolhendo a dor angustiante de suas inquietações, mas expondo seu fechar de disponibilidades internas para conhecer o que não encontram explicações lógicas no momento.

E, sobretudo, deixando à mostra uma incongruência, explícita publicamente e jocosamente: "criticando pejorativamente e desqualificando saberes e pessoas que se dedicam a eles, por não entender o conhecimento que, ainda, não lhes foi facultado abranger, embora seu vasto mundo intelectual seja reconhecido pelos que o cercam e, o mais importante, por eles mesmos".

Lúcia Thompson


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